Delegam toda a responsabilidade sobre o problema
as universidades, sem pensar se estes (futuros alunos
negros, afro-descendentes e indígenas)
possuem condições (a base estrutural)
para adentrar e permanecer nas mesmas
O tema da história da Cultura
Afro-Brasileira e Indígena borbulha a nossa mente de perguntas e, ao mesmo
tempo, instiga a uma pesquisa mais profunda na condição de educador e escritor.
Em razão da pluralidade cultural, uma das características marcantes da cultura
brasileira, resultante do processo histórico-social e das dimensões
continentais de nosso território. Essa diversidade multicultural e a
miscigenação da sociedade foram construídas através do suor e do trabalho não
remunerado de indígenas e africanos que receberam, como fruto de seus esforços
físicos, a segregação e os maus-tratos.
Quais as reações provocadas do
encontro destas diferentes culturas e modos de vida? Como interpretar o que
ainda desconhecemos? E o que são os brasileiros? Como investigar a formação do
nosso povo? Surgem outras indagações: O que conhecemos e sabemos dos povos
africanos e indígenas, que contribuíram para a história do Brasil? Como é
profunda a discussão da singularidade e o sincretismo cultural, resultado da
cultura mestiça. Cada um tem uma definição própria de cultura, quando reflete
sobre um determinado assunto sob certa visão, a pessoa nasce e convive em uma
classe social que pertence a uma etnia. Essas condições nos levam a pensar na
diversidade cultural e, consequentemente, na alteridade, quer dizer, no outro
ser humano, igual a cada um de nós e, ao mesmo tempo, diferente.
Dentro deste raciocínio, passamos
ainda pela incorporação e retransformação das ideias de cidadania, de respeito
às diferenças dos que pensam, agem e possuem cultura diferente, a exemplo das
nações indígenas. Precisamos limpar em nossas mentes as visões estereotipadas
sobre os indígenas e a África. Sub-entende-se, também, que para se estudar a
cultura afro-brasileira e indígena, precisa-se inseri-la no ambiente da escola,
unindo diversas áreas do conhecimento. Podemos ilustrar com a ciência da
Antropologia, que descreve o trabalho da interculturalidade, que implica uma
inter-relação de reciprocidades entre culturas, através da flexibilização de
atitudes e valores pela educação.
A Lei de Cotas de Negros nas
Universidades nos traz uma sensação de “tapar o sol com a peneira”, pois temos
uma dívida secular com os descendentes de africanos e índios. Por outro lado,
essa norma traz uma imagem turva de preconceito, pois parece que se aprovou
como forma de encobrir toda a violência, exploração e humilhação sofrida tanto
por negros e índios. Estes submetidos à visão eurocêntrica dos lusitanos, ao
fundamentalismo e ao maniqueísmo da manipulação política dos jesuítas, mais
precisamente, a igreja católica e, atualmente, as religiões pentecostais, entre
outras seitas, sufocam as reivindicações e manifestações destes povos, que são
os verdadeiros e primeiros donos desta terra?
Até entendo as políticas públicas no
sentido de reparo com o passado, mas creio que da maneira como são conduzidas
não atingem seus objetivos. Isto porque pesquisas recentes atestam que mesmo se
passando alguns anos após a complementação a Lei 9394/96, o que explicita em seus
artigos e incisos a inserção da história e cultura afro-brasileira e indígena
em nossos currículos, pouco se faz de fato para inseri-los na sociedade. O que
se remete às cotas nas universidades, pois, delegam toda a responsabilidade sobre
o problema às mesmas, sem pensar se estes (futuros alunos negros, afro-descendentes
e indígenas) possuem condições (a base estrutural) para adentrar e permanecer nas
universidades, onde podem reivindicar e se manifestar contra o sistema.
Portanto, creio tratar-se mais de um discurso do que uma ação efetiva.
Tanto que professor e aluno
desenvolvem competências em múltiplos sistemas de perceber, avaliar, acreditar
e fazer, conforme conceitua a própria Antropologia. Sendo assim, torna-se
imprescindível que seja realizado do ponto de vista africano e indígena, e não
atrelado a padrões eurocêntricos. Além disso, os educadores devem ser melhor
preparados para que promovam a alfabetização cultural de seus alunos nos
diferentes códigos culturais. E saibam também conduzir a compreensão genérica
dos processos culturais básicos e ao reconhecimento do contexto macrocultural
em que a escola e a família estão inseridas.
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