Ilustração de Rubens Shirassu Júnior
Prudente
Ruminante Blues
As
casas iluminaram suas
milhares
de pálpebras
ruas
aos poucos bebem luz
devagar...
Céu
virou coalhada de leite virgem,
entupiu-se
junto, o poste amigado ao silêncio
A
noite é o que sobrou na criação do mundo
apreciar
os barulhos que não se ouvem sitiados
dentro
das pessoas.
Os
prédios entristecem
à-enxaqueca:
passaram o dia calculando
Passa
as horas decorando um hino fluvial.
As
ruas enumeram casas
estrelas
magras penduram-se
em
postes boquiabertos
os
prédios exageraram uma
altura
só para comer as nuvens.
A
treva ampla se relaxa pra
para
engolir um segredinho.
Noite
boa, contraolhos não volve a ninguém
o
que finge? Os prédios
prosam
entre as janelas
como
sono comprido rebuscam
quantias
de ar.
Aqui,
as ruas fazem concurso
de
barulho. Sábado: dia promovido.
As
artérias acessam a todos,
gente
namorosa com ânsias
de
entradinha pra sensuar nos cantos
a
luz cava uns finaizinhos
de
noite escondidos.
O
tempo, então, fica comprido
como
caminhada ao horizonte...
um
caos vem-te pegando
num
telhado comendo a paisagem
enforcou-se
num pensamento,
esqueceu
a memória,
noite
vem moendo o teu cérebro.
Pia
no ar. dispersa-se,
as
agências dos olhos se entopem.
Os
olhos se penduram
num
saco de palavras
velhas
que o tempo vai levando.
Publicado
na Página Inicial de Blocos Online, item “Busca Autores”, Busca: Poeta,
Nacionalidade: Brasileiro, Autor: Rubens Shirassu Júnior, Tipo: Contemporâneo e
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Cartografia
do Sonho Prudentino
Te
vejo no melindre da língua
da
história que se bifurca neste vale
sem
tréguas, erma nas léguas
dos
migrantes lavradores iludidos
pelo
canto das sereias de néon da cidade:
queriam
vencer na vida,
como
fazendeiros do ar.
A
língua aqui valia
a
palavra dada
Sem
papel escrito
Nem
assinatura lavrada.
Levou
o povo que sonha o vale verde
à
vala comum.
Os
frutos
colhidos
ao tempo
Os
homens
caiados
no tempo
Os
sonhos
caídos
do tempo
O
pesadelo diante de poucos tostões,
os
horizonte ceifados pelas hélices
selvagens
da máquina do progresso,
colhendo
milhões de fardos, de café, algodão,
amendoim
empacotado de São João
Fest,
fabricado em série,
fora
do alcance daquelas mãos, para o alto
vagam
onde os vagões da vida
descarrilham.
Te
vejo, homem da roça, suplicar uma providência
do
divino, quem lembra? Prevalece, prefalece
vale
onde me fundo:
alma
e lama
do
mesmo barro.
Cresce
o poema sem adubos nem manifestos
onde
a cerca de estacas cai aos pedaços,
apodrecida
de esquecimento e pobreza.
Presidente
Prudente, o que queres?
saliva
ruminada de estábulos,
cuspe
sorrateiro na cabeça de códigos
De
orgulho, ostentação e etiqueta.
Exposição
de dentes, de medalhas, troféus,
Títulos
de nobreza, mas és (so)mente
Arcadas
secas ao sol.
Presidente
Prudente dos candelabros!
O
poema se levanta da riqueza recusada
e
verde é teu tempo onde para sempre
serás
vão, vale a verdura das plantas
guardar-te
às vivências elementares.
Te
vejo Presidente Prudente
no
voo rasante do povo
de
alma de andorinha!
Se
teu voo é de delícias doces,
etéreas,
amargas, orvalhadas adentro
no
céu do espaço inerte.
Andorinha
que permanece livre
na
vida do azul aberto,
solta
e fogosa de ser,
agente
da malandragem
buscando
rebeldia interestelar.
Cresce
a semente no vale verde
de
alguns milagres de refeição
de
reconciliação de amor perdido
em
amor achado de Deus,
fechar
as portas todas e deixar uma fresta
para
a esperança do homem prudente
do
campo, das palavras e suas metamorfoses
que
atravessam de círculo em círculo,
de
casas em casas e do mundo,
e
as circunstâncias todas
que
atravessam,
o
sonho largo, longo
e
fundo no fim da via:
na
carne viva
do
lavra (dor)
Lavrar
inteiro do tempo
debaixo
das unhas,
a
terra debaixo das unhas,
na
vida sobre a terra
e
nas unhas vivas da morte
madura
debaixo da terra.
(Páginas 59, 60 e 61, Cobra de Vidro, prêmio ProAc 2012,
São Paulo.)
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