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O Arlequim Estudioso





Pintura de Lasar Segall








Uma referência do Modernismo, deixou um rico legado
à literatura, sociologia, antropologia e folclore








            Em toda a sua obra, Mário de Andrade lutou por uma língua brasileira, que estivesse mais próxima do falar do povo, sendo comum iniciar frases com pronomes oblíquos e empregar as formas si, cuase, guspe, em vez de se, quase, cuspe. Os brasileirismos e o folclore tiveram a máxima importância para o poeta, como bem atestam os livros Clã do Jabuti e Remate de Males. Ao lado disso, suas poesias, romances (no caso, Amar, Verbo Intransitivo e Macunaíma - O Herói sem Nenhum Caráter) e contos revestem-se de uma nítida crítica social, tendo como alvo a alta burguesia e a aristocracia.


“Rapsódia sobre a pasteurização
da cultura e a busca da
identidade no folclore e raízes”


            Ao publicar Macunaíma, O Herói sem Nenhum Caráter temos, talvez, a criação máxima de Mário de Andrade: a partir desse anti-herói, o autor enfoca o choque do índio amazônico (que nasceu preto e virou branco – síntese do povo brasileiro) com a tradição e a cultura europeia na cidade de São Paulo, valendo-se para tanto de profundos estudos de folclore.


Em Busca da Identidade Perdida


            Macunaíma é o herói de nossa gente, como faz questão de afirmar o autor logo na primeira página do romance, procedimento contrário ao dos autores românticos, que jamais declaram a condição de herói de seus personagens, apesar de os criarem com essa finalidade.
            Surreal. Macunaíma, personagem-símbolo, no seu pensamento selvagem, faz as transformações que ele quer, um inglês vira o London Bank, a cidade de São Paulo vira um bicho-preguiça, e assim por diante, colocando todas as estruturas de pernas para o ar.







  


MACUNAÍMA
Mário de Andrade
Rapsódia, Literatura Brasileira,
Modernismo
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Tamanho: 21x13cm
240 Páginas
Editora Agir - Sinergia
1ª edição
2008










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