A volta do sensacionalismo como forma de atrair o público
Apavoramento
Nº 2
quinze
adolescentes de ambos os sexos foram chicoteados
na
bunda por batalhões da TFP que os insultavam
enquanto
trezentos rapazes & moças da seita imperialista
Hare
Krishna cortavam rodelas de cebola & colavam em seus olhos.
Roberto
Piva
Este poema é quase uma notícia de
jornal: poderia estar nas páginas de uma revista ou rede de televisão popular,
do tipo modelo Notícias Populares. O acontecimento que narra foi comum nos
piores dias da repressão quando grupos de direita, como Tradição, Família e
Propriedade (TFP), Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e outros fascistas, fundamentalistas
e dogmáticos invadiam impunemente universidades, teatros, exemplavam
estudantes, etc. Uma poesia mutante, inquieta, sem filiar a nenhuma estética
literária em particular, embora se veja nela traços do modernismo de 22, das
experiências de Murilo Mendes, de Jorge de Lima, dos simbolistas como Jean
Arthur Rimbaud, Paul Verlaine, Charles Baudelaire, passando pelos
transgressores Marquês de Sade e Georges Bataille, os surrealistas Lautréamont
e André Breton, os Beatniks anarquistas e místicos Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinguetti,
Jack Kerouac, William Burroughs, o orfismo de Antônio Boto e Pier Paolo
Pasolini e a moderna poesia americana.
Fala-se também da distopia, da
alienação pela falta de ideologia e da inércia. De um vazio cultural, a inação,
que dá o tom nas áreas de artes e de literatura. Apesar dos pseudointelectuais
na posição de meros espectadores do espetáculo bárbaro das mazelas do povo nos
meios de comunicação e, na posição de servilistas, de propagandistas exaltadores
de uma elite minoritária e medíocre, que se sustenta através da especulação e
ostentação do poder econômico apagando a memória, a identidade cultural e o
patrimônio físico das cidades do País.
No entanto, uma poesia que um
público restrito de poetas publica em blogs na internet, sem padrinhos e nem
panelas literárias, refletindo uma face extremamente marginalizada e, podemos
dizer também excluída, atenta às crises político-existenciais da história de
seu tempo e redimensionando um conceito démodé de poeta, visto como alguém
recolhido, sofrido e abatido. Nesta linha, de pequena dose idealista, produtores
culturais se identificam com a luta pelos direitos das minorias, como negros,
índios ou homossexuais. Outro ramo ainda critica, entre outras coisas, as
elucubrações intelectuais e busca uma aproximação através de uma linguagem coloquial
com o público informando quanto às terapias alternativas, a exemplo do xamanismo,
do zen-budismo, da medicina natural e da busca do equilíbrio com a natureza.
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