Alerta sobre a preservação da memória física de Presidente Prudente
“Eu
vejo o futuro repetir o passado / Eu vejo um museu de grandes novidades”
( O tempo não pára, Cazuza )
“Pras
pessoas de alma bem pequena / Remoendo pequenos problemas / Querendo sempre
aquilo que não têm / Pra quem vê a luz / Mas não ilumina suas minicertezas /
Vive contando dinheiro / E não muda quando é lua cheia / Pra quem não sabe amar
/ Fica esperando / Alguém que caiba no seu sonho / Como varizes que vão
aumentando / (...) Vamos pedir piedade / Senhor, piedade / Pra essa gente careta
e covarde (...) Lhes dê grandeza e um pouco de coragem.”
( Blues da Piedade, Cazuza )
No início dos anos 90, ocorre o
fenômeno da propaganda e marketing no País e em Presidente Prudente, começam a
brotar agências de propaganda mais profissionais, mais estruturadas e produzem
anúncios criativos, com destaque na sincronia entre a persuasão fluindo no
texto bem amarrado na psicologia de vendas, ao chamariz atrativo da imagem
trabalhada com efeitos de filtro e gráficos.
Para maior peso no conteúdo editorial
do informativo Soro, da Casa do
Poeta, incluímos os grandes vultos da literatura universal (Baudelaire, Rimbaud,
Octavio Paz, Castañeda, Byron, Patrícia Galvão, Poe, Lorca, entre outros),
artigos e ensaios instigantes de escritores brasileiros e filósofos. Escrevi a
resenha literária A imitação da Vida, sobre o livro de haicais Flamboyant, de Takeo Sawada, poeta,
pintor de aquarelas e professor, com a tradução de José Yamamoto, editado pela
Fundação Museu e Arquivo Histórico Municipal, e o artigo sobre a preservação do
patrimônio físico prudentino, principalmente das vilas Marcondes, São Jorge,
Bairro do Bosque e Jardim Aviação. Das ruas como: Barão do Rio Branco, Nicolau
Maffei, Joaquim Nabuco, Dr. Gurgel, Ribeiro de Barros, Siqueira Campos e
Felício Tarabay, que sensibilizou os leitores. De originalidade, o fanzine
expõe a trajetória do “limeirique”, pelo genial poeta paulista Glauco Mattoso,
que integrou a equipe da revista “Chiclete com Banana”, do cartunista Angeli. Os
releases de divulgação eram redigidos na máquina de escrever, em folha A4
(21,0x 29,7), entrelinha 2 e, no máximo 40 linhas, o que equivale a duas
laudas. Na sequência, tiravam-se várias cópias em xerox. Tínhamos que levar o
material impresso e entregar nas portarias ou para os editores dos jornais, as
duas revistas de circulação local e regional: a “Haute Creation” (de um antigo
salão de beleza) e a “Repercussão”, do radialista Ismael Silva e, sem esquecer,
os diretores artísticos das rádios.
Dois eventos expressivos naquela
gestão, contando com o apoio da advogada Maria Aparecida Pereira de Souza,
secretária da Casa do Poeta, do professor Valter Rogério Nogueira de Almeida, filho
de Ivan Nogueira de Almeida, ex-vereador e ex-presidente, por três vezes, da
Câmara Municipal da cidade, foram o “Ciclo de Poesia”, uma parceria com a União
Brasileira dos Escritores (UBE), na gestão de Claudio Willer, presidente da
entidade, dos poetas paulistas Roberto Luiz dos Santos e Erorci Santana, da
Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e
editores da revista bimestral Artaud´Art. O segundo, a palestra “Poesia e
Sociedade”, ministrada pela escritora Zizi Trevisan, doutora em literatura, no
auditório da Biblioteca Municipal Dr. Abelardo de Cerqueira César, no Palácio
Pedro Furquim, na Avenida Washington Luiz, esquina com a Coronel José Soares
Marcondes, no centro.
Na imprensa escrita, podíamos contar
com o apoio dos jornalistas José Luís Zana, Ivete Abbade e Adernil de Souza, os
colunistas sociais Geraldo Soller, produzia “Fotos & Fatos”, de terça a
domingo, escrevia crônicas desde a era de ouro das radionovelas, um grande
incentivador da literatura e da preservação da memória, Barbosa da Silveira, há
quase meio século edita a “Sociedade em Tópicos”, antigos amigos de meu pai,
sempre atenciosos, gentis, prestativos e funcionários do mais antigo jornal de
Presidente Prudente.
Em 7 de junho de 1990, falece aos 32
anos, Cazuza, poeta e compositor e também conhecido como vocalista e principal
letrista da banda Barão Vermelho, no Rio de Janeiro. Na livraria e revistaria
Lima, na Rua Joaquim Nabuco, cinco gôndolas abarrotadas dos vinis “Ideologia”, “O
Tempo não Para - ao Vivo” (1988) e “Burguesia” (1989) do Cazuza, pelo preço
módico de R$ 5,00.
Em 2 de outubro de 1992, o
presidente Fernando Collor de Melo está afastado da Presidência até o Senado
concluir o processo de impeachment. O vice-presidente Itamar Franco assume
provisoriamente o governo e começa escolher a sua equipe ministerial. A retidão
do dinheiro nas cadernetas de poupança, autorizada por Zélia Cardoso de Melo,
ministra da economia, criando em torno de sua imagem pública uma aura mesclada
de ódio, revolta e antipatia. As três classes dos cursos de Direito, de Serviço
Social e de Economia pararam para acompanharem o julgamento de Collor nas duas
televisões da cantina de uma antiga instituição de ensino, na Vila Furquim.
No ano anterior, o grande cronista e
escritor Fernando Sabino lança o livro “Zélia, Uma Paixão”, relatando o período
em que Zélia Cardoso de Melo e sua paixão por Bernardo Cabral, o que confiscou
a reputação literária de Sabino, comprometendo o prestígio do escritor de
sólida trajetória. O tremendo escorregão recebeu algumas linhas corrosivas de
que renomado cronista e escritor mineiro teria sucumbido ao sucesso fácil de um
folhetim sensacionalista e, no comentário argumenta-se de uma aliança entre o
exibicionismo compulsivo de Zélia e o comercialismo barato de Sabino.
Uma conhecida entidade consultora de
serviços investe num plano de marketing de divulgação que incluía folders,
anúncios na televisão, nos jornais, nas revistas e nas rádios, promovendo a
abertura de microempresas (ME) e 90% dos empreendedores adquiriram dívidas com
instituições bancárias, fornecedores e, consequentemente, fecharam as portas de
suas empresas.
A instabilidade política e econômica
do Brasil, proporciona o medo dos industriais e comerciantes de Presidente
Prudente, em razão da queda de consumo dos produtos e, apenas o setor
alimentício e os supermercadistas mantinham o giro diário, suportando o período
difícil daquela época. Os lojistas optaram por dispensar os empregados mais
antigos.
Teve algumas tentativas de
desenvolver um jornalismo investigativo sem a apelação de explorar a mazelas do
povo, os crimes hediondos, marcas do estilo sensacionalista barato,
caracterizados por manchetes que usavam tipologia grande, chamativas e usando
as cores vermelho, preto ou branco com fundo escuro, a exemplo do famoso jornal
“Notícias Populares”, nas décadas de 70, 80 e 90. Os editores e jornalistas com
uma visão mais aberta do jornalismo gonzo: Luiz Roberto da Cruz, Betsy Neila, Irani
de Souza, Roberto Prioste, João Paulo Suzuki, Paulo Elcio Trevisani Júnior, este
começou como foca no “Diário”, produziu matérias especiais no Jornal do
Comércio, trabalhou ao lado do jornalista Benjamin Rodrigues, na assessoria de
comunicação da Prefeitura, no governo Virgílio Tiezzi Júnior e, atualmente,
trabalha na editoria de economia do Wall Street Journal, nos Estados Unidos.
Quanto às publicações periódicas: o Diário de Presidente Prudente (altera o
nome para Oeste Notícias, na coordenação de Ricardo Torquato, como responsável
pela redação), Jornal do Comércio, Folha da Região e Correio da Sorocabana, na
última fase com o diretor Rubens Roncador. Estes cinco jornais defendiam os
interesses próprios de grupos políticos, de executivos e de uma elite
minoritária dominante.
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