A fluidez, a
principal característica de líquidos e gases, diferente do sólido, ela não
mantém a sua forma, de modo fácil. De maneira idêntica, a cultura líquida escorre, esvai-se, respinga,
transborda, vaza e inunda. Essas são razões para considerar a fluidez como
metáfora adequada quando queremos captar a natureza do contexto, na história da
modernidade. A cultura líquida se identifica com a vida precária, vivida em
condições de incerteza constante, é uma sucessão de reinícios. Nessa vida e
cultura, livrar-se das coisas têm prioridade sobre adquirí-las. É uma vida de
consumo, projeta o mundo e seus fragmentos como objetos de consumo, ou seja,
que perdem a sua utilidade enquanto são usados.
A vida líquida, uma
forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquido-moderna, em
que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do
que aquele necessário para a consolidação dos hábitos e rotinas, das formas de
agir. A cultura líquida, assim como a sociedade, não pode manter a forma ou
permanecer em seu curso por muito tempo. Tudo é temporário, nesta cultura, para
você melhor compreendê-la, é preciso retroceder ao período da solidez, que está
associada aos conceitos de comunidade e laços de identificação entre as
pessoas, que trazem a ideia de perenidade e a sensação de segurança. Na era
sólida, os valores se transformavam em ritmo lento e previsível. Assim,
tínhamos algumas certezas e a sensação de controle sobre o mundo – sobre a natureza,
a tecnologia, a economia, por exemplo.
Com a popularização
da internet ocorre um excesso de informações e de cursos de artes em geral,
acarretando a banalização da cultura, e junto aos surtos de pequenas editoras
que trabalham sob demanda. Colocando a cultura como produto supérfluo e suas
implicações com a defesa de direitos, de comprometimento com a qualidade
artística e com a área. Podemos citar a questão da indigência cultural aliada à
subcondição de vida, muito presente no meio artístico de hoje, no Brasil. Pela
falta de leis de amparo expõe a classe à invisibilidade e ao descaso da maioria
dos políticos e secretários de cultura. Essa desvalorização e desestrutura trazem
implicações nos valores políticos, sociais, econômicos, educacionais, de exercer
a cidadania do personagem criado: o homem civilizado. Essas realizações
individuais não podem solidificar-se em posses permanentes, em instantes, os
ativos transformam-se em passivos, e as capacidades em incapacidades. As
condições de ação e reação tornam-se obsoletas.
Pela falta de
ideologia e de movimentos culturais, o que predomina são projetos esparsos e
sem impacto nas camadas mais carentes da sociedade. Visto que as poucas
entidades representativas engessadas pelo academicismo, por não ter uma plataforma
de trabalho, sem oferecer também a contrapartida aos que pagam mensalidade. O
que chamo de destruição criativa. É a forma como caminha a cultura líquida.
Aquilo que a criação destrói são outros modos de vida em sociedade e, portanto,
de forma indireta, os seres humanos que os praticam. O que proporciona aos
produtores culturais a reflexão, a sensação de insegurança e o descrédito,
dentro de um poço sem fundo, a dissipar alguns preconceitos criados por uma
elite minoritária, incluindo a cobrança de políticas culturais, como vemos até
hoje o plano de cultura enterrado, para mostrar exemplos como o turismo social
e religioso em algumas cidades do interior paulista, do espírito de
empreendimento, de cooperativa, de confraria e de liberdade que poderia ofertar
a autonomia dos municípios se livrando da dependência tutelar do Estado, de
triunfar pela ousadia em acreditar, para encorajar ao otimismo, advogar contra
a exclusão, a tolice e a mediocridade.
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