Vivemos em uma sociedade
de excessos. Somos bombardeados por informações que, na maior parte das vezes,
não conseguimos absorver. Acrescenta-se também que somos cobrados,
pressionados, o que nos torna reféns da nossa mente. Essa situação alterou algo
que deveria ser inviolável -, o ritmo de construção de pensamentos -, gerando
consequências sérias para a saúde emocional, o prazer de viver, a inteligência
e a criatividade.
De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,4 bilhão de pessoas, cedo ou tarde,
desenvolverão o último estágio da dor humana, o que corresponde a 20% da
população do planeta. Mas, conforme pesquisas, a Síndrome do Pensamento
Acelerado (SPA) provavelmente atinge mais de 80% dos indivíduos de todas as
idades, de alunos a professores, de intelectuais a iletrados, de médicos a
pacientes.
Sem perceber, a
sociedade moderna – consumista, rápida e estressante – alterou também o modo de
apreender, de processar o cérebro, desequilibrando com a angústia, a depressão,
a síndrome do pânico, a hiperatividade ou Síndrome do Pensamento Acelerado
(SPA) e a sustentabilidade das relações sociais. Sim, adoecemos coletivamente.
Este é um grito de alerta.
No Brasil, o “boom”
dos livros de autoajuda e da indústria do misticismo e apocalipse é um fenômeno
que ocorre paralelamente ao crescimento das seitas religiosas – cristãs e
não-cristãs. Num caso e no outro, as pessoas buscam a cura, o consolo, o
aconselhamento espiritual fora da ortodoxia. Isto é, através de práticas mais
flexíveis, por meios mais acessíveis. As terapias atendem à classe média alta
letrada, como os livros de autoajuda, e descrente. As seitas seduzem os não tão
sofisticados e menos “favorecidos”. O paralelo, aqui, é sociológico num sentido
amplo. Mas há uma analogia essencial entre religião e terapia.
Numa famosa carta ao
amigo Oskar Pfister, Sigmund Freud definiu os psicanalistas,
junto com os oradores, como “pastores de alma leigos”. A psicoterapia aparece
claramente como um sucedâneo da prática religiosa, num mundo secularizado. Ela
só poderia surgir com a morte de Deus, parafraseando Friedrich Nietzsche. Estas são considerações muito genéricas
(alguns diriam nebulosas). O fato é que, no Brasil, os oradores, os profetas do
apocalipse, místicos e livros de autoajuda proliferam como cogumelos depois da
chuva. Esses “camelôs” motivadores do ego, invadem a vida particular de seus
fiéis seguidores, mesmo sem formação em psicologia, em teologia ou oratória, escancaram
a vida particular, como numa vitrine, intimidando e favorecendo a popular
“fofoca” ou maledicência no grupo. O cúmulo da generosidade da figura do
“conselheiro”, independente de classe social e raça, fervilha em grande
quantidade, geralmente nas épocas de crise, desigualdade social, desemprego e
grandes catástrofes em países das Américas latina e central, fortemente
influenciados pela visão maniqueísta da religião. Isto reflete o medo e a
insegurança da sociedade em geral.
O
mundo hoje está mais complexo e as gerações atuais sem tantas esperanças. O
clima é completamente diferente: as pessoas estão muito mais interessadas em se
estruturar do que em se expressar.
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