O sistema da
convivência social é transmutado quando a comunidade no seu espaço de lazer
desfruta de atividades culturais. Ocorre o favorecimento do pensar, do dialogar
e de ouvir as opiniões diversas, entre o corpo e suas disciplinas, entre
conveniências indumentárias, são pouco a pouco modificados pelas capacidades
produtivas, pela evolução simultânea dos códigos de costumes e das
sensibilidades, quando, por outros consumos pela utilização diferente das
coisas, os indivíduos podem se construir e outra forma e reajustar sua relação
com a coletividade.
O afastamento da
política e ainda ausência de interesse pelo processo político, também está se
afastando do conceito de democracia e cidadania. Giroux & Giroux diz que a cidadania foi reduzida ao ato de
comprar e vender mercadorias, em vez de evoluir para uma democracia
substancial. E ainda, que a liberdade dos cidadãos foi plantada e enraizada no
solo sociopolítico, devendo ser fertilizado diariamente pelas ações bem informadas
de um público instruído e comprometido, afastando-se, portanto, não
bastando apenas a visão consumerista de participação da população.
Saber conviver com a
diferença. É a tendência a se retirar dos espaços públicos e recolher-se a
ilhas de mesmice que com o tempo se transforma no maior obstáculo ao convívio
com a diferença - fazendo com que as habilidades do diálogo e da negociação
venham a definhar e desaparecer. É a exposição à diferença que com o tempo se
torna o principal fator da coabitação feliz, fazendo com que as raízes urbanas
do medo venham a definhar e desaparecer.
Esta reflexão não
quer romper com a história cultural fragmentada de Presidente Prudente, que
permitiu identificar a pirâmide social, provar o refreamento da classe pobre e,
principalmente, dos excluídos e uma pequena parcela dos descendentes indígenas.
Mostrar dos espaços especializados e a escalada da separação entre o privado e
o público, o profissional, o íntimo, o trabalho e o lazer. Parece-me difícil
demais analisar retrospectivamente as manifestações culturais em espaços
privados, como aconteceu no Alquimia Bar, do Mário Paulo Rodrigues, e no Clube
da Esquina, do Gilmar, que fizeram nossa compreensão evoluir desde a década de
1980, quaisquer que sejam suas insuficiências ou limites intelectuais que
podemos contestar.
Ainda seria preciso
que essa pequena produção artística seja resgatada, estudada, registrada e
compreendida. Mas, como anunciara em comentários anteriores, entre 2017 e 2018,
gostaria de ampliar a sua proposta, e levantar a história da relação de uma
sociedade com seus bens na perspectiva de uma análise das mediações. O consumo
não esgota a história dos produtos, ele autoriza a interrogação antropológica
de uma época e permite respeitar os laços entre a história e as ciências
sociais. O consumismo é uma resposta do tipo “como fazer”. A sua lógica serve
às necessidades dos homens e das mulheres em luta para construir, preservar e
renovar a individualidade e, particularmente, para lidar com a sua aporia. Os
movimentos do mercado de consumo desafiam a lógica, mas não a da luta já
inerentemente aporética pela individualidade. A luta pela singularidade agora
se tornou o principal motor da produção e do consumo em massa. As artes em geral serão produtos culturais, o
meio artístico deve rever o conceito amoldado às metamorfoses e aos modismos
passageiros do mercado cultural do século 21?
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