Pular para o conteúdo principal

Exploração e domínio

 
Publicado em 1971, o livro As Veias Abertas da América Latina, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, logo se transformou em um clássico para os seguidores de filosofias anticapitalistas e anti-imperialistas.
No livro, o autor analisa a história da América Latina sob o ponto de vista da exploração econômica e da dominação política, desde a colonização européia até a contemporaneidade da época que foi lançado. Isso em um período contextualizado pela Guerra Fria (1945-1991), e pelo início de um ciclo de regimes ditatoriais nos países latino-americanos.
A publicação de Galeano era identificada como sendo uma obra revolucionária e de esquerda, que foi banida na Argentina, Chile, Brasil e no Uruguai, durante as ditaduras militares nesses países. O escritor chegou a ser preso em solo uruguaio, e depois obrigado a se exilar, primeiramente na Argentina, e depois, na Espanha.
Neste ensaio contado de uma maneira não acadêmica, mas, sim, de forma poética, fluida e dramática, o escritor usa suas últimas páginas para grafar a diferença entre as colonizações de exploração, predominantes no sul dos EUA e em todo o continente latino, e as de habitação, na parte dos Estados Unidos que dominou todo o território, não esquecendo claro, dos aspectos herdados de um comportamento fascista, que ignora ferozmente aspectos de cunho social para supervalorizar o capital. Para Eduardo Galeano, o legado a seguir na América Latina era sim o social, na tentativa de frear o alastramento do “progresso”, que tem suas aspas justificadas pelo corrimento também da miséria nos pedaços de terra conquistados pelo primo rico, localizado mais ao norte.
Mais de 40 anos depois, o escritor revelou ser a prosa da esquerda tradicional chata. Além do que, o seu físico não aguentaria e, portanto, seria internado no pronto-socorro. Em outra declaração Galeano demonstra que assumiu um tom mais ponderado para analisar o maniqueísmo político de outrora: “Em todo mundo, experiências de partidos políticos de esquerda no poder, às vezes deram certo, às vezes, não, mas muitas vezes foram demolidas como castigo por estarem certas, o que deu margem a golpes de Estado, ditaduras militares e períodos prolongados de terror, com sacrifícios e crimes horrorosos. Incluindo erros cometidos em nome da paz social e do progresso, em alguns períodos”. – completou o escritor uruguaio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O PAU

pau-brasil em foto de Felipe Coelho Minha gente, não é de hoje que o dinheiro chama-se Pau, no Brasil. Você pergunta um preço e logo dizem dez paus. Cento e vinte mil paus. Dois milhões de paus! Estaríamos assim, senhor ministro, facilitando a dificuldade de que a nova moeda vai trazer. Nosso dinheiro sempre se traduziu em paus e, então, não custa nada oficializar o Pau. Nos cheques também: cento e oitenta e cinco mil e duzentos paus. Evidente que as mulheres vão logo reclamar desta solução machista (na opinião delas). Calma, meninas, falta o centavo. Poderíamos chamar o centavo de Seio. Você poderia fazer uma compra e fazer o cheque: duzentos e quarenta paus e sessenta e nove seios. Esta imagem povoa a imaginação erótica-maliciosa, não acha? Sessenta e nove seios bem redondinhos, você, meu chapa, não vê a hora de encher a mão! Isto tudo facilitaria muito a vida dos futuros ministros da economia quando daqui a alguns anos, inevitavelmente, terão que cortar dois zeros (podemos d

Trechos de Lavoura Arcaica

Raduan Nassar no relançamento do livro em 2005 Imagem: revista Usina             “Na modorra das tardes vadias da fazenda, era num sítio, lá no bosque, que eu escapava aos olhos apreensivos da família. Amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma, vergada ao peso de um botão vermelho. Não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor velando em silêncio e cheios de paciência o meu sono adolescente? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam da varanda?” (...)             “De que adiantavam aqueles gritos se mensageiros mais velozes, mais ativos, montavam melhor o vento, corrompendo os fios da atmosfera? Meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo. E me lembrei que a gente sempre ouvia nos sermões do pai que os olhos são a candeia do corpo. E, se eles er

O Visionário Murilo Mendes

Retrato de Murilo Mendes (1951) de Flávio de Carvalho Hoje completaram-se 38 anos de seu falecimento Murilo Mendes, uma das mais interessantes e controvertidas figuras do mundo literário brasileiro, um poeta difícil e, por isso mesmo, pouco divulgado. Tinha uma personalidade desconcertante, sua vida também constitui uma obra de arte, cheia de passagens curiosas de acontecimentos inusitados, que amava Wolfgang Amadeus Mozart e ouvia suas músicas de joelhos, na mais completa ascese mística, não permitindo que os mais íntimos se acercassem dele nessas ocasiões. Certa vez, telegrafou para Adolph Hitler protestando em nome de Mozart contra o bombardeio em Salzburgo. Sua fixação contemplativa por janelas foi assunto do cronista Rubem Braga. Em 1910, presenciou a passagem do cometa Halley. Sete anos depois, fugiu do internato para assistir ao brilho de outro cometa: Nijinski, o bailarino. Em ambos os casos sentiu-se tocado pela poesia. “Na