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Objeto livro e suas experiências

Poemóbiles, de Augusto de Campos e Julio Plaza


A produção de livro de artista, em Presidente Prudente e região, uma prática e opção inexistente, nem mesmo em pequenas editoras. Porque a área carece de inovação de projeto gráfico, rompendo as amarras do conservadorismo, possibilitando reflexões iluminadas sobre o que possa a ser a experiência de produzir livro de artista. Seja do ponto de vista do criador, do leitor, do produtor, da editora, da circulação, dos fluxos, dos arquivos, dos acervos, enfim, para se criar a cultura e a história do livro de artista.

Criar um projeto de incentivo e formação cultural para que os editores e proprietários de gráficas incluam em suas produções a forma-livro, entre outras formas de produção artística e poética. Uma espécie de “escrituras visuais”: duplas folhas aladas, intercaladas aos textos, provocando pousos e povoando as pausas, respiros no decorrer da leitura dos textos, fazendo com que o livro, em algum momento, seja o abrigo e, simultaneamente, o ponto de fuga para os pensamentos sobre o fazer específico e singular que é o universo dos livros de artistas.

Deve-se fazer um diálogo com o território específico e abrangente de livro de artista, atualmente com suas fronteiras ampliadas. Produzir livro de artista traz à tona algumas reflexões e projeções, entre tantas possíveis sobre o campo semântico que o mesmo alavanca, carregando em seu bojo sutis e avassaladoras distinções: livro-objeto, objeto-livro, caderno de anotações, diários, impressões, obra-livro, forma-livro, caixa-livro, livro-processo, livro-registro, entre outras. Tratando-se de um campo aberto para investigações e experimentações, várias definições, não definidas convivem e compartilham operações e modos de produção. A experiência que reside neste campo poético singular – o de livro de artista – é carregada de poesia e cultura, intercalando, conectando e provocando diálogos entre artes plásticas, artes visuais, literatura e design gráfico, conjugando várias áreas do conhecimento – que são da ciência à história, da antropologia à filosofia.

Esse elenco de expressões traduz, por um lado, a intersecção das diferenças em relação aos procedimentos, modos de produção, estratégias e plataformas que indicam ser livro de artista ou ser livro simplesmente e, por outro lado, converge para distintos pontos focais das semelhanças entre todos os livros que, de certa maneira, alimentam e contemplam esse fazer singular – ser um livro livre, antes e depois de tudo!


 

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