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Humor e reflexão


Caricatura de Lan


 
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)

 
- No Brasil, as coisas acontecem, mas depois, com um simples desmentido, deixaram de acontecer.
- Antes só do que muito acompanhado.
- Ser imbecil é mais fácil.
- Está dando mais do que cará no brejo.
- Nos trens suburbanos não livram a cara nem de padre, que dirá mulher de minissaia.
- O mais perigoso é que já estão confundindo justa causa com calça justa.
- O Reino Unido não é tão unido assim como eles dizem, não.
- Mais monótono do que itinerário de elevador.
- Mais inútil do que um vice-presidente.
- Mais mole que bochecha de velha.
- A Polícia anda dizendo que prende um bandido de meia em meia hora, então a gente fica desconfiado que eles assaltam de 15 em 15 minutos.
- Ninguém se conforma de já ter sido.
- Quem desdenha quer comprar, quem disfarça está escondendo, mas quem desdenha e disfarça, não sabe o que está querendo.
- Mulher enigmática, às vezes é pouca gramática.
- Quando um amigo morre, leva um pouco da gente.
- Nem todo rico tem carro, nem todo ronco é pigarro, nem toda tosse é catarro, nem toda mulher eu agarro.
- Quem diz que futebol não tem lógica ou não entende de futebol ou não sabe o que é lógica.
- A diferença entre o religioso e o carola é que o primeiro ama a Deus, o segundo, teme.
 - Pediatra sempre capricha na pronúncia quando anuncia sua especialidade, pra evitar mal-entendidos.
- Nem todo gordo é bom, muitos se fingem de bonzinhos porque sabem que correm menos.
- Tinha tal pavor de avião que se sentia mal só de ver uma aeromoça.
- Mulher e livro, emprestou, volta estragado.
- O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.
E para terminar:
- Da minha janela vejo o pátio de um colégio e quando a campainha toca para o intervalo das aulas eu paro de trabalhar e fico olhando, como se estivesse no recreio também.
- O importante é não deixar nunca que o menino morra completamente dentro da gente. Caso contrário ficamos velhos mais depressa. Dizem que é por isso que os chineses, de incontestável sabedoria, conservam o hábito de soltar papagaio (ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. Não sei se é verdade, nunca fui chinês.




 
*Stanislaw Ponte Preta, nosso fantástico cronista Sérgio Porto (1923/1968), teve sua vida esmiuçada por Renato Sérgio no livro Dupla Exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta, editado pela Ediouro Publicações S.A. - Rio de Janeiro, em 1998. Dali extraímos as frases acima (pág. 266 e seguintes), muitas das quais refletem o clima em que vivia o autor face à "revolução redentora de 1964", como ele costumava dizer.





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