Rubens Shirassu, um dos pioneiros da propaganda na região
Cronista mescla, entranhadamente,
os instantâneos líricos saídos das formas de vida e do espaço da modernidade
à velha arte do repórter fotográfico
A crônica, oficialmente classificada, não existe. Mas, como ocorre com ovnis há sempre alguém disposto a testemunhar que já a viu e nas mais diferentes formas. Pode aparecer brincalhona, amarga, profunda, superficial ou como um recorte da infância. Essa contemplação oferece provas luminosas da existência de um espaço aberto para a criatividade ou a falta desta. Vai-se do banal ao clássico, caso em que se pode enquadrar, entre outros exemplos, a prosa de Rubens Shirassu. Menção especial merece o jornalista, radialista, cronista e contato publicitário que, com seus flashs rápidos de repórter fotográfico, perenizam o instante, assim consegue traçar um painel de costumes e hábitos de 1947 até 1979. Além da adoção da meditação e mudança de postura, influenciadas pela sabedoria do oriente (Maktub). (Página 161). Serve do exemplo moral e da imagem mitológica, ao reverenciar personalidades locais, no caso de Jupyra Cunha Marcondes: “O tempo passou. Mais tarde, lembra-nos dessa figura impar, realizando os mais belos espetáculos através do Conservatório Municipal Dramático e Musical, revolucionando o mundo artístico das emissoras de rádio, inclusive com peças de rádio-teatro, novelas, etc”.(Página185), Michel Buchalla (Página 48) e Mário Salvador (Página 55), de âmbito nacional, quando comenta a posse do General Ernesto Geisel, ex-Presidente da República, ainda no período conturbado da ditadura (Página164), até literária ao citar a filosofia do escritor Malba Tahan:“Eu sou o tempo, meu filho, atalhou o velho barqueiro. Aprenda para sempre a grande verdade. Só o tempo é que faz passar o Amor. E continuou a remar, numa cadência certa como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno. Sofrimento... desprezo... Que importa tudo isso ao coração apaixonado?” (Página188)
No início de sua carreira, dividia funções ora redigindo textos jornalísticos, corrigindo e fazendo rádio-escuta na redação ou lendo a prosa de Geraldo Soller no programa “A Crônica do Dia”.
Rubens Shirassu teve seu nome definitivamente consagrado com a leitura de seus escritos no programa “Cortina de Veludo”. Aqui, criava textos em sincronia com o fundo musical, que incluía grandes intérpretes e orquestras. As crônicas leves, fluentes e com uma boa dose de romantismo nas vozes de Frank Sinatra, Doris Day, Charles Aznavour, Edith Piaf, Bing Crosby, Johnny Mathis, Harry Belafonte, Gilbert Becaud, orquestras de Glenn Miller, Tommy Dorsey, Henry Mancini, Percy Faith, Frank Pourcel, Xavier Cugat, Perez Prado, Românticos de Cuba, Billy Vaughn, Paul Mauriat e, a mais popular de todas, a de Ray Conniff. Dedicava-se com empenho à arte de prender a atenção dos ouvintes, usando de um texto convincente, leve e simples, com altas doses de sonhos e romantismo, contando com a psicologia da persuasão na entonação da voz do narrador ou comunicador.
Na música popular brasileira, o balanço dos ritmos nacionais e estrangeiros no piano de Waldyr Calmon e seu Conjunto (autor de “Que Bonito é”, que tocava no Canal 100, programa de notícias esportivas que passava antes do filme principal), as orquestras de Sílvio Mazzuca, Radamés Gnatalli e os frevos de Severino Araújo. No começo dos anos 60, a Bossa Nova de Roberto Menescal e seu Conjunto, a voz potente e harmoniosa de Nilo Amaro e seus Cantores de Ébano, Bert Kampfert, Lés Elgart, James Last, entre tantos nomes consagrados das músicas nacionais e internacionais.
Seus textos escritos nas décadas de 60 e 70, poderão servir de referência a muitos cronistas, pesquisadores, historiadores, sociólogos e estudantes de comunicação e marketing.
Com a popularização dos canais de televisão e o aumento das opções de leitura e entretenimento, de recursos gráficos e visuais como o outdoor, começa a elaborar programas dirigidos a entidades patronais, a exemplo dos condutores autônomos, comerciários ou bancários.(Página173)
Estes especiais, de 30 a 45 minutos no máximo, eram vendidos incluindo o pacote completo: criação do texto, a parte de locução e edição no estúdio da rádio, agendava-se com antecedência a data de sua exibição.
A maior característica de sua obra está no perfil, ao mesmo tempo, crítico, anedótico, apaixonado, mas sobretudo humano, que faz da cidade de Presidente Prudente e de seu povo, com particular atenção aos pioneiros, grande parte hoje inscritos nas placas de ruas ou monumentos. Todo esse painel é narrado no verdadeiro dialeto prudentino, uma cultura heterogênea resultante das misturas do linguajar caipira, dos imigrantes italiano, português, espanhol, árabe, sírio-libanês, além da paciência e serenidade provinda de sua origem oriental.
De certo modo, continuando, o autor mostra a cidade invadida pelo progresso, quando o mando dos coronéis Marcondes e Goulart, ameaçado e substituído por políticos mais hábeis e versáteis. Em certos momentos, Rubens Shirassu atinge o máximo de sua potencialidade, com seus dotes de observador, numa linguagem ágil, concisa, clara e saborosa. Ele adentra as ruas da cidade como uma câmera fotográfica, carregada de filmes líricos, que mostram fatos pitorescos e característicos.
O autor ainda revela em “Janela Indiscreta”, principalmente pulso, no retrato impiedoso que faz da classe média, fechada medrosamente em seu pequeno mundo, feitos de valores que privilegiam a prosperidade, o dinheiro, a tradição e as disputas sociais e profissionais.
Vista no conjunto, a obra “A Vida e o Tempo” apresenta um panorama sócio-político e de costumes das décadas de 50, 60 e 70, algumas foram publicadas em 3 jornais antigos e tradicionais, ambos de Presidente Prudente. Sua grande virtude reside no fato de ter desenvolvido uma literatura de cunho social, acessível ao comum dos leitores. Há também o fato de que, nos altos momentos, Rubens Shirassu conseguiu ser fiel a uma época.
Comentários
Postar um comentário