Ilustração de Michael Peck
Somos
nossa memória, somos esse quimérico museu
de formas inconstantes, esse montão de espelhos rompidos.
Jorge Luis Borges
Perder a
memória, para o indivíduo, soa como uma ameaça de morte, deixar de existir. O
que significaria para um país? Acredito que, ao contrário do que se pode
imaginar, países que investiram prévia e previdentemente em cultura foram os
que mais desenvolveram seu domínio sobre a reprodução da vida material, isto é,
sobre os problemas prioritários. O que, em grande medida, tornou possível a
solução desses desafios da existência.
Mas, a informação não pode ser
apenas armazenada. Trata-se de torná-la acessível: classificá-la e organizá-la
de modo que tenhamos contato com os conhecimentos (e as dúvidas) acumulados
pela humanidade. John Maynard Keynes, um obsessivo bibliófilo e colecionador de
documentos, afirmou certa vez que o conhecimento da história das ideias era uma
condição prévia para a liberdade de espírito, acrescentando não saber o que
faria um homem mais conservador: saber apenas o presente ou apenas o passado. O
problema da biblioteca – de seu acervo, dos funcionários e equipamentos que
intermedeiam o encontro entre leitor e documento - é, portanto, um problema
político, parte daquilo que se tem chamado de conquista da cidadania.
As memórias de Andrei Sakharov,
talvez sirvam como contraprova dessas afirmações. Um dos maiores físicos
soviéticos critica os que extraem, de histórias e de situações trágicas, uma
atitude obscurantista e dogmática, recusa a fé cega nas tradições pelo simples
fato de serem “nossas” tradições. Cultivando a lucidez, Sakharov aponta a
abertura para as diversidades culturais e políticas como um caminho para a
construção de um futuro humano.
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