A arte desvela ou
expõe o que há de inumano e frágil em nossa humanidade que está sujeita às
variações e demandas do tempo histórico. Os artistas em geral têm que advogar
uma cultura e uma educação para a amplitude da experiência com o mundo e com os
outros. E uma forte preocupação não só com a ideia de cuidado e
responsabilidade para os que vivenciam na atualidade, mas com os que irão
nascer, mas a defesa incondicional de que é a pluralidade que define a nossa
condição de seres de ação política. E neste espaço da pluralidade que nos
constituímos enquanto seres da palavra e de ação. Dentro deste ambiente que
podemos nos reinventar, produzir e preservar o mundo. Assim, sem dúvida, o
espaço constitutivo da experiência da diferença, tão fundamental ao convívio
humano. Embora uma pequena parte da classe artística manifeste essa consciência
acerca do importante papel que a cultura e a educação podem desempenhar na
construção da autonomia e liberdade dos indivíduos, ela sabe também o quanto a
linguagem do pensamento reflexivo encontra-se separada, para não dizer
suplantada, pela linguagem formal do pensamento científico.
Temos que refletir e
avaliar a cultura, dentro dos pensamentos de Theodore Adorno e Hannah
Arendt, como uma possibilidade de resistir às imposições de uma cultura,
que se rege pela lógica do mercado, da indústria cultural e da sociedade de
massas. Uma reflexão sobre a educação e a cultura que se contraponha aos
processos de padronização do pensamento e da formação de coletivos que leve as
pessoas ao exercício da autorreflexão crítica e do pensamento. Uma motivação ao
pensar e ao julgar como não confirmação imediata com as ordens exteriores, com
as proposições apodíticas preestabelecidas com finalidades coercitivas. Uma educação
para a faculdade de pensar e para a autorreflexão crítica, compromissada com a
responsabilidade pelo mundo.
Os ideais de
autonomia e liberdade, dois temas caros à nossa atualidade e que podem ser
sintetizados nas seguintes perguntas: Hoje, podemos nos pensar, de fato, livres
e autônomos? Esses dois ideais foram suplantados pelas determinações
tecnológicas-científicas, econômicas e políticas, em nosso presente? Essas são,
claramente, questões que contém um teor ético e político, na medida em que nos
interrogam acerca da nossa ação nesse mundo e da nossa responsabilidade por
ele. Ao analisar os aspectos da cultura contemporânea que põe uma série de
entraves à reflexão ética e, por conseguinte, à ação política. O uso da
reflexão leva a elucidar os entraves da cultura contemporânea que barram a
nossa capacidade de pensar e julgar os acontecimentos históricos e políticos,
sobretudo, quando não participamos.
A área carece de
projetos que se interligam à área de filosofia da educação e suscite alguns
questionamentos sobre a relação entre o processo educacional, o esclarecimento
e o desenvolvimento das faculdades de julgar e de pensar como aspectos
importantes na formação humana e na luta contra a barbárie e a banalidade do
mal. Visto como um paradoxo porque contradiz aquilo que se objetiva como papel
da educação. A questão que perpassa o trabalho como um todo é a relação entre
os processos formativos, sociedade esclarecida ou do conhecimento e a
manifestação de atos bárbaros (ou da maldade) em tão grandes proporções ao
longo do século XX e início do século XXI. Nesse sentido, a sociedade moderna
se apresenta muito mais como gestora da cultura da dominação que de uma cultura
que tenha se identificado com os ideais de emancipação. Nesse contexto, a
preocupação será pensar formas de resistência que passam, na nossa leitura,
pela autocrítica e autorreflexão adornianas
e pela capacidade de pensar e julgar, no sentido arendtiano.
A modernidade e o
progresso do Brasil só serão alcançados quando as carências da área social
forem minimizadas e isso só se atingirá com o envolvimento das secretarias de
desenvolvimento econômico, de assistência social, de cultura e, acima de tudo,
com o apoio imprescindível da comunidade em geral, dos representantes do povo,
das Ongs, clubes de serviço e o empresariado local, aproveitando os novos
conceitos e práticas de gestão, convenientemente adaptados. Nesse contexto de
recessão econômica mundial, urge a elaboração de projetos de cultura criativos
e práticos, direcionados e realizados nas periferias, apesar da visível desigualdade
social, da barbárie da violência gratuita e do vazio do consumismo desenfreado.
A motivação central
para o trabalho de consciência da cidadania através da cultura é o fato de, na
sociedade moderna, se conjugar o progresso tecnológico, bem-estar e ameaça à
vida. Os ganhos, em termos de conforto e facilidade de vida que o progresso
tecnológico proporciona, contrastam grotescamente com os riscos aos quais esse
mesmo progresso expõe a vida e o mundo. Duarte, na introdução de Vidas em Risco afirma: “Na modernidade
a vida mesma viu-se capturada no interior de uma espiral de consequências
incontroláveis e imprevisíveis (André Duarte, Crítica do Presente em Heidegger,
Arendt e Foucault, Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2010, p.3). A época
moderna parece valorizar mais a técnica e a ciência do que a vida humana. A
vida humana passa a ter o seu valor associado à sua utilidade.
Quando se produz obra
concreta e pública se torna mais fácil a população ver e acreditar que aquela
gestão do prefeito canaliza a arrecadação de impostos para a melhoria de ruas,
avenidas, de calçamento, de sinalização, entre outras ações concretas. Quanto à
cultura, por não ser visível ou palpável, consequentemente, grande parte do
povo não vê as transformações no pensamento e no comportamento, além do que, os
resultados do plano cultural são mais morosos.
Dentro deste
raciocínio, a reflexão de Levi-Strauss, no livro Raça e História, torna-se oportuna: “Todas às vezes que somos
levados a qualificar uma cultura humana de inerte ou de estacionária devemos
nos perguntar se esse imobilismo aparente não resulta da nossa ignorância sobre
os seus verdadeiros interesses, conscientes ou inconscientes, e se tendo
critérios diferentes dos nossos, essa cultura não é, em relação a nós, vítima
da mesma ilusão.”
Comentários
Postar um comentário