No atual modelo de
sociedade, ao qual a educação está vinculada, espaço este propenso à prática de
barbárie e do mal banal, deve-se compensá-la a partir de uma postura ética
voltada para essas questões? Pensar essas questões automaticamente remete ao
tema da autonomia, ainda que não desista de uma educação, de uma cultura para a
autonomia, penso pelo caminho da negativa, assinalando os limites e desafios
para se chegar, pela educação e pela cultura, a uma autonomia de fato. Uma vez
que a própria realidade dos processos educacionais é tomada pelos pressupostos
de uma cultura alienante.
A proposta para
combater a barbárie seria, por conseguinte, uma educação para a autorreflexão
em busca do sentido filosófico a respeito do processo de coisificação da
sociedade, da adesão cega aos coletivos, do caráter manipulador e da ausência
de consciência (ou consciência coisificada). Estas são consideradas
potencialidades da barbárie enquanto dão suporte à frieza das pessoas e
interditam as experiências do pensamento. A frieza inviabiliza nos homens a
experiência. Daí a relação entre experiência e pensamento.
Assim, nem podemos
apontar soluções simplistas para o problema da banalidade do mal. Tampouco
acredito em medidas revolucionárias e teorias que abriguem o sistema como um
todo, o que, de certa forma, os regimes totalitários fizeram. E isso se aplica,
inclusive, à educação com suas reformas pedagógicas e seus métodos padronizados
visando a anular as diferenças individuais. É importante dar condições para que
as pessoas possam pensar por si mesmas, como forma de oposição aos processos
massificantes da sociedade atual, por meio de uma atitude de pensar sobre o
sentido dos acontecimentos com os que estão chegando, estamos criando as bases
para o pensamento. Estamos partilhando o mundo comum. Assim, os professores e
os artistas podem propiciar aos alunos e ao público em geral, repensar, recriar
e ressignificar o mundo herdado dos mais velhos.
O julgamento e a
responsabilidade pessoal, enquanto atitudes éticas, requerem um esvaziamento da
pessoa, no sentido de se colocar numa posição de neutralidade em relação às
pressões externas e aos conceitos pré-estabelecidos. Sem essas condições o ato
de julgar e de responsabilizar seria influenciado por elementos intrínsecos e
extrínsecos, determinando os resultados finais. O pensar deve ser uma atividade
totalmente livre de quaisquer condicionamentos, para dar condições ao
desenvolvimento da responsabilidade pessoal e do julgamento. Dessa forma, o
pensamento torna a pessoa apta a escolher, e se não pode transformar uma
situação na qual está inserido o seu objeto, no mínimo vai desencadear uma
profunda mudança naquele que pensa.
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