(Oitava parte)
Essa
parte do livro aproxima-nos mais uma vez da relação que o escritor Lúcio
Cardoso estabelece com seu pai. Em uma carta que Joaquim Lúcio Cardoso escreve
ao filho, ele diz: “A ti e a teus irmãos, confiam Deus a tarefa do meu amparo
na última (sic) etapa da vida” (CARDOSO b, s/d, p. 1). O pai de Lúcio Cardoso,
assim como Jaques, um homem que fracassa em todas as suas funções sociais.
Note-se como o pai se coloca em um papel que não é o lugar daquele que deve
amparar os seus, de levar adiante os valores da sociedade, imprimir em seus
filhos a lei da cultura, mas, ao contrário, coloca-se em um papel passivo
diante dos filhos, a ponto de querer deles o amparo para sua velhice. Essa
característica do pai do escritor reflete na construção de personagens de
outras obras, pois assim será o personagem de Maleita, que fracassa em sua tentativa de civilizar uma cidade do
sertão mineiro; Rogério Palma, que fracassa na criação do filho Inácio, em O enfeitiçado; e assim será Valdo,
impossibilitado de cuidar ou de estabelecer a lei para seu filho André, assim
como seu irmão, Demétrio, incapaz de ter filhos em Crônica da casa assassinada.
A morte
do pai fecha mais um ciclo e Sílvio amadurece cercado pela monotonia e pelo tédio.
Sua atenção volta-se, então, para Diana, sua paixão da infância, que retorna a
Villa Velha para tratar de uma doença e passa a ser um ponto de referência para
o personagem. Porém, assim como todos os referenciais de Sílvio, Diana reflete
também, a imagem do fracasso. A doença parece ser metaforizada como o insucesso
dos personagens de Dias perdidos, pois tanto Jaques quanto Diana – personagens
descritos inicialmente como cheios de fulgor, força, beleza e magnetismo –
definham em doenças incuráveis que os fazem ver todos os seus sonhos se esvaírem.
No caso de Diana, acostumada aos luxos e às modernidades do Rio de Janeiro, o
que parece ser o principal intensificador de sua doença origina da mesquinhez
que a pacata Minas Gerais encerra. Mais um dos pontos que nos levam a Lúcio
Cardoso, pois Vila Velha metaforiza as muitas cidadezinhas fechadas de nossas
Minas Gerais. Aliás, o amor de Lúcio por Minas Gerais sempre foi mesclado pelo
ressentimento e pelo ódio. Desse modo, o referencial paterno pode ser
relacionado também a Minas Gerais, que aparece nos romances cardosianos como uma
terra de culpa que ceifa todos os ideais e sonhos de suas personagens.

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