(Quinta parte)
Lúcio
Cardoso, assim como Sílvio, também possui um pai ausente que aparece sempre
como um vulto, enevoado em histórias de viagens sempre fracassadas. Em
biografia não publicada de Walmir Ayala, apresenta o pai do autor de Crônica da casa assassinada como um
viajante transformado em personagem do escritor: Seu pai, Joaquim Lúcio
Cardoso, era um andarilho, fundador de cidades, com três anos de engenharia e o
espírito da aventura – este homem seria o personagem principal do primeiro
romance de Lúcio Cardoso, Maleita (sic.), publicado em 1934. (AYALA, s/d, p.
01).
Isso
vem ao encontro do que queremos postular neste artigo: o pai de Lúcio Cardoso é
um dos sujeitos reais, transfigurados pelo escritor em seus romances e novelas,
o que aponta para uma relação bastante coesa entre biografia e escrita.
Conforme
Cássia dos Santos, “somente em 1967, com a publicação de Por onde andou meu
coração, o primeiro livro de memórias de Maria Helena Cardoso, que o público
leitor pôde constatar o quanto de autobiográfico havia no quarto romance do
ficcionista” (SANTOS, 2001, p. 108). Isso confirma a asserção do próprio Lúcio
Cardoso de que um escritor não tira nada do nada; sua escrita, pode-se entender
de seu raciocínio sobre Faulkner, é parte dele, sua vida se escreve conjuntamente
com seu texto e, no caso de Lúcio, toma e fragmenta a figura paterna em diversos
personagens, interessando-nos neste artigo a relação de Jaques com seu filho
Sílvio, personagens de Dias perdidos.
Em
uma carta para Lúcio Cardoso, Manuel Bandeira afirma que as personagens do
escritor mineiro nada mais são do que uma descrição do próprio Lúcio: “As suas
personagens são como você que é um homem de sensibilidade aguda e torturada.”
(BANDEIRA, 1935, p. 01). Tal “sensibilidade torturada” pode ser vista como
consequência da imagem fracassada que o pai de Lúcio Cardoso representa, pois a
falta da figura paterna e o ideal de paternidade fracassado podem implicar a
diferença com a qual sujeito deve operar em busca de meios para se afirmar ante
a sociedade. No caso de Lúcio Cardoso, acreditamos que esse meio possa ser a
escrita sobre seu pai, na qual ele também se implica, ao se autorrepresentar
inscrevendo-se em seu próprio texto.
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