(Segunda parte)
A
relação que se estabelece entre jornalismo e literatura, permeada por
dicotomias como dinheiro versus arte, e realidade versus ficção,
precisa ser analisada com outros olhos. Nos meios acadêmicos, há um discurso
fundador da literatura internalizado que separa a arte literária da produção
textual remunerada, considerando aquela menos artística por isso. Nas palavras
de Lajolo & Zilberman (2001, p. 71): “Na
tradição dos Estudos Literários, não é de bom tom misturar questões de dinheiro
com literatura, apagando-se o caráter econômico das atividades culturais”.
O
apagamento desse caráter econômico, entretanto, resulta em perdas
significativas para uma pesquisa dedicada ao estudo da relação entre esses tipos
de escrito, pois se deve levar em consideração que, por muito tempo, o
jornalismo foi um refúgio para os escritores que não conseguiam se sustentar
com a literatura. Dessa forma, cair no simples maniqueísmo do que é bom ou
ruim, de arte pura ou comprada, demonstra ignorar uma parcela significativa de
autores que se utilizaram do jornal e do jornalismo como ferramentas
remuneradas para não se afastarem do trabalho com a linguagem.
Além
disso, da maior importância lembrar a questão do folhetim. Muitos textos
literários foram publicados primeiramente nas páginas dos jornais. Sendo assim,
a literatura se fez manifesta no ambiente jornalístico ou pela presença de seus
autores atuando como jornalistas, ou através das publicações de caráter
literário que eram veiculadas pela imprensa escrita.
Com
a chegada do século XX, cada vez mais a separação entre literatura e jornalismo
começou a se delinear e, ainda que não seja definitiva, foi alimentada pelas
dicotomias anteriormente citadas e por outras mais.
O
espaço da crítica literária na imprensa
Até
o século XIX, ou mesmo até meados do século XX, literatura e imprensa se
confundiam. Isso se dava porque o objeto livro ainda não era popular; eram os
jornais que conferiam notoriedade e proporcionavam o sustento dos escritores.
Como em uma relação simbiótica, a imprensa vivia da literatura, na medida em
que esta era publicada em larga escala, e a literatura era sustentada pela
imprensa, considerando que o periodismo empregava os literatos e escritores.
No
século XX, entretanto, a imprensa passou por mudanças e, desde então, as
colaborações literárias dentro dos jornais passaram a ser consideradas matérias
à parte, pois o jornal não tinha mais interesse em ser – todo ele – literário.
Essa revolução, por assim dizer, se iniciou nas primeiras décadas do século XX,
com o período de modernização das grandes cidades brasileiras, coincidindo, por
exemplo, com a chamada Belle Époque carioca, em que as obras de Pereira
Passos visavam à construção de uma metrópole nacional que poderia se equiparar
às europeias. As reformas promovidas pelo prefeito mudaram as relações
capitalistas e sociais presentes no Rio de Janeiro da época, local em que
grande parte dos literatos se encontrava. Com isso, a imprensa também sentiu
necessidade de mudanças, e, assim, a literatura passou a aparecer em seções de
crítica em rodapé, esboçando o que, mais tarde, seria chamado de suplemento
literário.

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