Retrato de Nietzsche, de 1906, por Munch
O hóspede incômodo
arromba e devora o interior
da casa na ordem do dia
Como um vento, arrasta
retalhando a vida
no verão dos dentes enfurecidos
Maquinaria, animália
face encarnada
na transitória passagem
da noite, impressa com sangue,
dor, solidão e desemprego
O poeta anda errante
pela Avenida das Esfinges
correndo da máquina
devastadora
II
O poeta vive para morrer.
O poeta anda na contramão
Vomitando com a órbita vazia
sete estrelas claras nesse charco
de líquidos corpos empoçados
(Bukowski verde bílis néon)
Há desgosto e música na atmosfera
de engrenagens e igrejas.
Denunciando tua agonia ao piano
desarticulado
Seu sapato está cheio de buracos
Sua roupa debaixo
são hábitos nada ortodoxos.
O poeta espera quando
o pêndulo do relógio sangrar.
A noite como um baralho elétrico
vibra o rosto sobrenatural
nos telhados amarelos
O tédio se despreende na alucinante
língua azul da madrugada.
Ele vem rolando
por escadas infinitas
Ninguém olha este passageiro
no legado do mundo delirante.
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