Meu querido mestre Murilo Mendes
Minhas palavras esculpem o teu corpo
no azul do afresco do céu alado
do teu deus, cavaleiro das fontes,
poça sem fundo./
Olho por muito tempo o corpo de um poema
Até perder de vista as janelas dos teus olhos
de caos/ e sinto separado entre os dentes
da memória,/
um filete de primavera de sangue nas gengivas,
das bocas, nos becos de Minas,
Lavadeiras sobem ladeiras
Lavadeiras descem ladeiras
carregam candeias nas mãos,
Dormem na penumbra esperando
anjos vingadores./
Dormem no outro tempo, dos mortos
da sobrecasa/
Dormem no talco preto da terra prisioneira,
das almas que vagam.
Os demônios de Juiz de Fora estão soltos
no discurso de difamação do poeta
Chove paranoia contra o elogia à loucura,
à poesia da casa do canário,
que guardamos aprisionada na garganta
para a hora exata de alimentar fantasmas.
No cotidiano vazio e ruminante blues,
ecos do murro no vitral
da catedral modelo para armar.
Saudemos o poeta pintor cósmico
que calça nuvens ornadas de cabeças gregas!
Saudemos o novo tempo!
Saudemos Murilo Mendes muito além
do arco-íris, dos arquitetos que projetam
espigões cubistas, barcos ancorados no espaço!
Depois de ti, grande mestre, vibrarão outros
gritos terríveis diante dos limites do Homem.
O menino experimenta a alquimia do verbo
As palavras escorrem como geleias de maçã
sobre as passagens ressentidas.
Jogos de ilusão e poder nas cartas do mágico,
Las Vegas, Wall Street e Avenida Paulista,
estrelas rachadas gotejam leite dos deuses,
Eu vejo meninas de seios estourando
esperando na grande loja de variedades,
garotos grandes, de coxas largas,
pílulas energéticas, passatempo
estimulante rápido./
A noite grande encherá o espaço
de diversões eletrônicas,
e os corpos ocos se multiplicarão em outros.
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