Pular para o conteúdo principal

Cultura e informação










Um verdadeiro mundo a ser descoberto ou desvendado








            Já houve tempo em que a atividade do sebista era vista com certa reserva por algumas pessoas ou como perto de exótico por outras. O próprio nome sebo conota um sentido próximo do pejorativo. No dicionário Aurélio Buarque de Holanda algumas das definições trazem: em uso chulo – namoro, na gíria – exprime impaciência, desapontamento, irritação, ou ainda usado popularmente – indivíduo metido a sebo – pessoa pedante, orgulhosa. Mas o que poucos sabem mesmo é que a palavra é um apelido dado pelos cariocas, desde o começo do século, quando surgiram as primeiras casas de livros de segunda mão: os alfarrábios. O comércio era uma novidade no país quando alguém pegava um daqueles livros (alguns antiquíssimos, cheios de marcas deixadas pelo tempo) dizia estar ensebado.
        À parte, origem e definições da palavra, o sebo hoje em dia está no ápice de sua atividade e não há porque guardar preconceitos e reservas em frequentá-lo. Estudantes, donas-de-casa, advogados, escritores, aposentados ou apenas curiosos que não entendem nada do assunto sentem-se atraídos por aqueles livros, um verdadeiro mundo a ser descoberto ou desvendado.
  Outro “fantasma” que ronda o sebo é o temor, completamente infundado, que o livro usado seria agente transmissor da bactéria (aspecto bastante explorado por algumas pessoas, há até o caso de uma editora portuguesa que, além de lacrar seus livros, traz uma recomendação para que as pessoas não utilizem o livro usado). Nesse caso, seria bem interessante (para não dizer hilariante) imaginar as bibliotecas sendo fechadas por absoluto estado de calamidade pública, já que seus livros são bem mais manuseados que os do sebo. Além disso, os livros do sebo moderno são higienizados para evitar pragas como o caruncho e, muitas vezes, até restaurados com novas encadernações.
      Como se vê, sem motivos para não conhecer esse tipo muito especial de livraria. E se você se sente inclinado a engrossar o rol de seus frequentadores, não perca tempo. Só tem a lucrar com muita cultura e informação.








Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O PAU

pau-brasil em foto de Felipe Coelho Minha gente, não é de hoje que o dinheiro chama-se Pau, no Brasil. Você pergunta um preço e logo dizem dez paus. Cento e vinte mil paus. Dois milhões de paus! Estaríamos assim, senhor ministro, facilitando a dificuldade de que a nova moeda vai trazer. Nosso dinheiro sempre se traduziu em paus e, então, não custa nada oficializar o Pau. Nos cheques também: cento e oitenta e cinco mil e duzentos paus. Evidente que as mulheres vão logo reclamar desta solução machista (na opinião delas). Calma, meninas, falta o centavo. Poderíamos chamar o centavo de Seio. Você poderia fazer uma compra e fazer o cheque: duzentos e quarenta paus e sessenta e nove seios. Esta imagem povoa a imaginação erótica-maliciosa, não acha? Sessenta e nove seios bem redondinhos, você, meu chapa, não vê a hora de encher a mão! Isto tudo facilitaria muito a vida dos futuros ministros da economia quando daqui a alguns anos, inevitavelmente, terão que cortar dois zeros (podemos d

Trechos de Lavoura Arcaica

Raduan Nassar no relançamento do livro em 2005 Imagem: revista Usina             “Na modorra das tardes vadias da fazenda, era num sítio, lá no bosque, que eu escapava aos olhos apreensivos da família. Amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma, vergada ao peso de um botão vermelho. Não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor velando em silêncio e cheios de paciência o meu sono adolescente? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam da varanda?” (...)             “De que adiantavam aqueles gritos se mensageiros mais velozes, mais ativos, montavam melhor o vento, corrompendo os fios da atmosfera? Meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo. E me lembrei que a gente sempre ouvia nos sermões do pai que os olhos são a candeia do corpo. E, se eles er

O Visionário Murilo Mendes

Retrato de Murilo Mendes (1951) de Flávio de Carvalho Hoje completaram-se 38 anos de seu falecimento Murilo Mendes, uma das mais interessantes e controvertidas figuras do mundo literário brasileiro, um poeta difícil e, por isso mesmo, pouco divulgado. Tinha uma personalidade desconcertante, sua vida também constitui uma obra de arte, cheia de passagens curiosas de acontecimentos inusitados, que amava Wolfgang Amadeus Mozart e ouvia suas músicas de joelhos, na mais completa ascese mística, não permitindo que os mais íntimos se acercassem dele nessas ocasiões. Certa vez, telegrafou para Adolph Hitler protestando em nome de Mozart contra o bombardeio em Salzburgo. Sua fixação contemplativa por janelas foi assunto do cronista Rubem Braga. Em 1910, presenciou a passagem do cometa Halley. Sete anos depois, fugiu do internato para assistir ao brilho de outro cometa: Nijinski, o bailarino. Em ambos os casos sentiu-se tocado pela poesia. “Na