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Alívio Refrescante












Não vou entrar aqui no mérito da educação sobre a atitude do flatulento, aquele que solta um “pum” comprimido para fora, mesmo! Disse o “pum”, que não é o mesmo Parque de Uso Múltiplo de Presidente Prudente (outro PUM de criação), mas, o conhecido “insustentável peido do ser”. Um nome de conotação escatológica explícita, e com sonoridade grotesca e pejorativa. De extremo mau gosto e respeito por ser uma área pública, que envolve a imagem da cidade. O seu criador deve estar escondido até hoje em pleno anonimato. Enquanto os outros fazem mal juízo. Mas, isto é assunto que merece uma crônica sobre o tema e seu efeito.
Durante as últimas décadas você reparou o que tem de remédio que diz aliviar o excesso de gases no estômago e intestino. Foi quando olharam para o próprio resultado do engenho biológico e viram a quantidade de produtos, do tipo salgadinhos, petiscos e refrigerantes, os causadores dos tais gases, que investiram todas as armas na divulgação dos amenizadores. Uma coisa puxa a outra. Existem poucos alimentos que você não sente os efeitos colaterais de sua ingestão, ou implosão, caso não apareça algum pesquisador de plantão argumentando em tese sobre os causadores de problemas gastrointestinais. Há algum tempo, podia se comer de tudo. Você não vai deixar estas atrativas guloseimas de lado. Ainda mais se você for um comedor compulsivo. Por sinal, com rótulos e anúncios bem chamativos e vistosos. Só que a carga de componentes, corantes e conservantes químicos aumentou a fermentação no estômago, formando assim os gases, que pressionam contra as paredes do intestino.
Veja a situação embaraçosa em que se chegou. Você fica no dilema: - Fazer ou sofrer em razão das normas de etiqueta social! Peidar ou não peidar . Eis a questão! Se toma a atitude de soltar uma “labareda” aliviante, você vira anti-social, inimigo, burro, porco, des­carado. Encher a cara de álcool, pode. É social. Até cheirar cocaína é bem visto. A sociedade entende, lógico, desde que você tenha grana. Podemos dizer, se você é flatulento e é rico, vão dizer que você pos­sui um problema gastrointestinal, mas, se você é pobre e tem “pum” descontrolado, automaticamente, você é taxado de “sem vergonha!” Mas quem solta um “pumzinho” não é perdoado. É olhado com nojo, com desdém. Analisam o flatulento e pensam: esse aí não tem senso do ridículo. Como se eliminar os gases fosse uma atitude de falta de conduta.
Não estou aqui fazendo nenhuma apologia à escatologia, quanto a atitude de soltar um “pum” em qualquer ambiente. Sei das consequências desagradáveis e da inconveniência. E estou apenas fazendo uma reflexão. É que a pior consequência de não soltar o seu “traque” para fora, são as cólicas de intestino. E cólica de intestino causa mal-estar e sufoca. Como toda a reação do corpo humano, acabei por per­ceber uma verdade fundamental: os homens se diferenciam pelo que fingem e se assemelham pelo que escondem. Assim, o ato do flatulento serve para mostrar que somos iguais, e só por artifício é que podemos ser diferentes. Mas, soltar o ar comprimido para fora, é a amostragem de barro ordinário de que somos feitos: apenas um sopro do excremen­to em nosso segundo lábio. Que não se faça o perfil do Homem só por suas normas de conduta e etiqueta, ou pelos sons angelicais e harmo­nia que produza por um instrumento musical ou pelo canto, pela mani­pulação em compor fórmulas e aromas agradáveis. É horrível, grotesco e pobre, mas somos nós. Proibi-lo e criticar por expelir é impedir que se conheça uma parte de nossas entranhas: deixaremos de contribuir para o progresso espiritual. Estamos vivendo uma era de confissão pú­blica. Então, “vamos botar para fora as nossas porcarias”. Proibir esse “vento intestinal” é sandice, ou farisaísmo.



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