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O Capital Selvagem e a Vida Enlatada





Cena da animação Wall-E da Pixar Disney







“O Estado é um dos piores monstros”

Nietzsche








Se o Governo Federal desenvolve uma campanha para a inclusão digital, ocorre na ação um paradoxo: grande faixa da população constitui-se de pessoas de menor condição financeira, que vive na carne e assiste à desigualdade social. Vou cair num típico jargão tradicional usado nas plataformas dos partidos do Brasil: O povo brasileiro necessita de ensino de melhor qualidade, profissionalização, maiores opções de emprego, junto a salário, enfim, uma vida mais digna. Penso ser o mínimo básico para se viver e também o exercício justo de cidadania.
Tal promoção do Governo e do Estado reflete que, no fundo, não existe interesse no equilíbrio social, econômico e nas relações entre as classes, valorizando e respeitando o(a) cidadã(o) com os conceitos humanos de igualdade e fraternidade, autorrealizando todas as leis dos códigos e, principalmente, da nossa Constituição Federal.
E, sim, causa o efeito contrário, a campanha nefasta prioriza o consumo desenfreado, a qualquer custo, estimulando um mau hábito que, se transforma em doença nas camadas mais carentes da sociedade. Eleva-se o índice de inadimplência, favorecendo apenas a comerciantes, industriais, cartões de crédito, banqueiros, financiadoras e corporações estrangeiras. Por outro lado, ocorre o aumento de desânimo, depressão, angústia, entre outros males da mente e do corpo, abarrotando as UBS´s (Unidades Básicas de Saúde), as chamadas pelo SAMU ou Resgate, promovendo a intitulada “indústria da doença” no País.
Pela falta de cultura e de educação, as pessoas vão se preocupar no acúmulo de bens materiais e, ao mesmo tempo, ostentar o poder de compras do dinheiro. Esse comportamento demonstra que ocorreu uma inversão de valores: desvaloriza-se o ser humano, reduzindo-o a apenas uma inscrição, um número de RG e CPF. Na outra face da moeda, sacraliza-se a espiritualização dos aparelhos da tecnologia digital e banaliza o ser humano. Vivendo apenas dos prazeres efêmeros e artificiais, o Homem afasta-se da essência da natureza, do sentido da vida. Vou adaptar uma frase de Jean Paul Sartre, filósofo existencialista do século 20: Vivemos um século onde a essência não tem prioridade sobre a existência.



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