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O Pum da Criação














Acredito que um publicitário deve atentar na colocação e o efeito do poder das palavras no público em geral. O uso incorreto de um termo pode gerar reações psicológicas contrárias. Por isso, a criação do P.U.M. – Parque de Uso Múltiplo – que lembra o “Pum”, termo chulo, gíria vulgar de “flatulento”, é de extremo mau gosto e de tom escatológico. Para o dicionário Aurélio, a palavra “Pum” designa estrondo ou detonação, peido, (ventosidade emitida pelo ânus) traque, expressa-se desagradável, adquirindo um significado torpe, obsceno e pejorativo. Cheira imprudência, mau-cheiro ou fedido. Deprecia aquele espaço público de lazer e seus frequentadores, os moradores de Presidente Prudente, além dos turistas, principalmente, o prefeito e o secretário de obras da época da inauguração. De outro lado, estimula a ironia, o sarcasmo e o deboche da turma “dos contra” no progresso da cidade ou sua oposição. Assim como os inimigos políticos, os adolescentes adoram uma piada nojenta e cínica. Você já imaginou a reação de um visitante ao ser convidado para ver o “pum”? Vai rebater: - Sentir o pum de quem? Seria um espaço onde se canaliza o ar rarefeito pelo canal competente! – caindo na gargalhada.
Faltou, sim, prudência dos publicitários e do prefeito que aprovou o nome sem consultar sua assessoria de imprensa e os vereadores. Na época, deveriam as rádios e os jornais da cidade ter pego o gancho para uma enquete, usando critérios para uma pesquisa séria de campo, em parceria com empresa qualificada. Iria vender jornal e dar ibope na TV e no rádio! Você conhece a seriedade e respeito de um projeto com o público, desde o planejamento, a equipe de engenheiros, publicitários, o marketing político, criar um conceito disposto nos releases para toda a imprensa e, por último, a reação dos visitantes (turistas) ao espaço criado.
De 80 a 92, houve no Brasil o boom da criação, porém, o que vemos hoje, com raras exceções, seria o pum da falta de criatividade, bom senso e respeito. E como tudo que se refere ao pum uma hora sai cocô! Na tarefa de oferecer um retrato mais arredondado da mul­tifacetada realidade brasileira, a garotada mostrou a bunda pintada em protesto contra o governo. Havia referências à causa. Do universo dos gases em ebulição existem elementos ainda sem utilidade precisa, feito o xenônio, dizem os químicos. Como faces da insatisfação contra o despudor e a falta de consciência cívica, de cidadania, ética e mo­ral, soltemos o ar que nos comprime. Hoje em dia, nivelou tudo a um vento intestinal. Quer dizer, a coisa se nivelou por baixo, meu irmão e irmã! Então, meu caro leitor, que tal mudarmos o nome de nossa área de lazer mais democrática e bonita da cidade, heim?



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