Crônicas em estilo cinematográfico resgatam a memória
FANTASIAS DE MEIA PATACA
José Antonio
Pereira
Crônicas
Apoio e
Promoção: Secretaria de Cultura de Cataguases
Intermeios –
Casa de Artes e Livros
Dia 10 de
Agosto de 2013
Horário: Às
19h30
Local:
Biblioteca Ascânio Lopes
Chácara Dona Catarina, S/Nº
Centro
Cataguases - Minas Gerais
Chácara Dona Catarina, S/Nº
Centro
Cataguases - Minas Gerais
Carteira de Cronista
Numa linguagem que remete ao Salinger
de O apanhador do campo de centeio, José Antonio busca num tempo perdido (e no
agora,) da mítica infância/adolescência o assunto de suas deliciosas
crônicas. E aí está, a meu ver, a sua
maior qualidade: uma técnica sui-generis aliada a uma memória cinematográfica.
Mas, é ele um autor inédito?
Mais ou menos: José Antonio integrou o
quarteto que veio a se chamar de Os cronistas da rua Alferes, em referência ao
livro que publicou juntamente com Vanderlei Pequeno, Emerson Teixeira Cardoso e
José Vechi: Portanto, é quase inédito, exceto pelos artigos e contos publicados
na e-zine Chicos, alguns constando
neste Fantasias de Meia Pataca.
José Antonio, escreve e consegue o que
ao meu ver é indispensável na boa prosa: unir o sentimento à arte, pois o
sentimento é arte também, e ambos são expressão.
O livro quando nos leva à
representação da infância evoca nomes, lugares, firmas comerciais,
acontecimentos políticos, festas populares, como as quermesses da igrejinha do
Rosário, o carnaval, de onde resgata a gostosa marchinha, Citran de
Cataguarino: “Citran de Cataguarino chegô...ô...ô...ô... Trouxe um varal de
galinha... uma cestinha de ovos... Citran de Cataguarino chegô”.
Mas o lado Macunaíma é revelado com a
ironia existente em outras faces de seu estilo: Milagres de economistas; O meu
mil novecentos e sessenta e oito, Primeiro de abril de 1964 e, Não é minha
culpa.
Pedi a um jovem que desse uma olhada
nos originais de Fantasias de Meia P ataca e depois perguntei o que tinha
achado do livro, e ele: Na crônica, A vila, depois de dizer o que era ela para
ele na sua infância, José Antonio completou: “Notei, que meus amigos estavam
engrenados num papo sobre futebol. Acho que até o leitor me abandonou.” Pelo
contrário, o meu interesse no livro ali apenas começou – emendou o rapaz.
Seu lado cinematográfico nos leva a
perambular pelo Bixiga dos anos 80, sua Roma paulista. Só mesmo um cinéfilo de carteirinha para nos
guiar pelo felliniano bairro estabelecendo uma correspondência entre este e a
emblemática capital italiana com direito a Fonte de Trevi, Anita Elkberg como
em La Dolce Vita. Entre mentiras, verdades e fantasias rolava muito papo e
cerveja.
Pelas mãos de Ady Resende, é singela
homenagem que nos remete ao início dos anos 70 quando tivemos as primeiras
impressões do colégio de Niemeyer, para chegar ao artesanato popular o mestre
nos guiava pelas barras gregas, o desenho geométrico, o artístico, com suas
sombras e perspectivas e à pintura propriamente dita com o necessário
aprendizado de suas cores básicas. E só
depois de passar pelos clássicos, Rembrant, Matisse, Van Gogh, Toulose Lautrec,
Portinari que ainda estava ali na nossa cara causando estranhamento.
Para finalizar estas já longas
considerações acerca do belo livro de crônicas do José Antonio, destacarei o
Barbastião, os dois o bar e dono, infelizmente, já extintos ressurgem nas
figuras do Cossaco, Rubão e outros bebuns anônimos e incorrigíveis, onde nas
sextas-feiras como nas outras também era servido regiamente o tradicional café
dos três efes: frio, fraco e fodido. Entra Vasco era a senha para voltarem os
olhos para a calçada quando mulher bonita passava pela porta do boteco.
Quem se arvorar a leitura deste Fantasias de Meia Pataca não se
arrependerá da empreitada. O José Antonio tem bala.
Emerson
Teixeira Cardoso
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