Buscando uma compreensão melhor dos
dilemas postos e os danos causados ao ser humano, além de deixar mais exposta à
crítica das relações sociais, a prosa de Graciliano Ramos abandona a
dissertação de teses, como naturalista e mostra as pessoas agitadas pelas
tensões a que estão vivendo; os textos refletem em quadros talhados à madeira
em uma análise psicológica os movimentos e a consciência destes mesmos
personagens. O autor vale-se do estilo indireto livre para filtrar em palavras,
já que elas são, pela força do destino, pela vida miserável a que estão
submetidas, incapazes de raciocinar de forma lógica. A obra faz um painel de
uma sociedade que recusa essa gente a cada instante, uma gente de tantas
tristezas e poucas alegrias. E pelo jeito de ser e pelo seu comportamento é que
somos alertados sobre a opressão reinante em tudo.
“São Bernardo”, escrito na primeira pessoa, o (a) leitor (a)
não se liga ao personagem que conta a história (vale ressaltar a maestria de
Graciliano, carpinteiro na composição do relato). Em Paulo Honório, embora
simulado de narrador surge como mesquinho, frio e calculista que faz a sua meta
por meio de forçar à submissão das pessoas que o rodeiam. Estando longe de ser
o herói que luta contra o seu meio, egresso do romance romântico. Fica abolida,
a partir de então, pelo menos nas grandes obras da época, a ótica do universo
que imprimiu nos textos inspirados no duelo indivíduo versus meio, predominante
em toda a ficção do século XIX. Em Graciliano, encontra-se o homem que ascende à
classe dominante e passa a conviver. O personagem Paulo Honório mostra euforias
vivas e ideias que o fazem ser atuante e persistente para moldar o mundo a seu
desejo. Portanto, não será a vítima tradicional, quando reconhece suas
contradições, antes, o estado depressivo levá-lo a um dilema que transcende aos
problemas sociais e políticos, e bate à porta da metafísica e dos limites da
ação humana. Na forma existencialista de Sartre, passa para uma náusea, comporta-se
no relacionamento com seu corpo e indaga o que é, simbolizado pela matéria
orgânica torna-se violento ao que o mundo o colocou. Pela maneira que descreve
uma reação física, o romance espelha impresso profundamente, cortante, doloroso
o sistema, mas também uma estrutura psicológica acabada.
No próximo dia 27 de outubro completam-se
120 anos do nascimento de Graciliano Ramos, natural de Quebrângulo, Alagoas.
Escritor, jornalista e político, o autor teve uma vida em que a literatura e a
política se entrelaçaram e, não raro, as convicções e atividades políticas
inspiraram suas obras de forte conteúdo social.
Entre seus livros, podemos destacar “Memórias
do Cárcere”, versão produzida para cinema em 1984, roteirizada e dirigida por
Nelson Pereira dos Santos, onde revela sua amarga experiência no período em que
esteve preso durante a ditadura de Getúlio Vargas, em 1935, acusado de
subversão. Em “Vidas Secas”, drama também adaptado ao cinema, em 1963, pelo
diretor Nelson Pereira dos Santos, um de seus mais celebrados trabalhos,
retrata, por meio de um relato indignado, as agruras dos retirantes nordestinos
castigados e humilhados pela seca.
Clique
e acesse abaixo o link do filme “Memórias do Cárcere:”
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também a página do filme “Vidas Secas” no YouTube:
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