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Presepada












Essa brincadeira mostra a mecânica do desejo











            Essa menina, que vou chamá-la de Pimpinella, acho eu, não tem ainda noção exata do que acaba de cometer com a festa de casamento regional e – duvido, não nacional.
            Só sei que a repercussão foi relâmpago! Eu não sou crítico e nem teórico do ofício. Mas por escrever, quando olho tem um lado reflexivo que dá uma espiada de trivela. É que eu tenho dito aqui estar impressionado com as novas manias de lazer que vai desde o trekking até o body jupping e, mais recentemente, equilibrar-se no touro mecânico em festa de casamento. Essa prática que é uma verdadeira montaria que, significa pelo Aurélio, “de montar + ia”, cavalgadura, sela usada pelas mulheres ou saia comprida que as mulheres usavam para montar”.
            Pimpinella diz poder montá-lo no Natal e Ano Novo de várias maneiras. E até para estimular a imaginação e o instinto sexual do casal. Imagine você de véu e grinalda toda eufórica vivendo cada segundo daquele momento único na sua vida. Ficam vários pontos de interrogação na cabeça. Qual o motivo que força as pessoas a mudarem o comportamento e as cerimônias?
            O fato de você manter o equilíbrio em cima do touro, é tudo que os cowboys americanos acharam que tinham feito. Só que o buraco da criação é muito, muito mais embaixo. E já tem muita gente cavalgando em cima do bicho! Existe a opção com o fundo musical de Cavalgada do Roberto Carlos (aquelas das estrelas mudam de lugar) criando um clima romântico e íntimo, até “Nóis Trupica, Nóis, Não Cai”, pra galera que gosta de um agito tipo só chacoalhar o esqueleto!” Essa presepada começou em festas de rodeio pelo Brasil adentro. Montanha Russa é ficha. Mas essa brincadeira mostra a mecânica do desejo. Os teóricos das universidades não vão entender, você está vendo, Pimpinella! A farra no touro mecânico é o verdadeiro bug do milênio. Já mexeu com seus bite-neurônios. Sua vida nunca será a mesma.
            Pode acreditar, no dia seguinte, a noiva country (o nome lembra cachorrinha poodle com laço de fita) me disse sobre os efeitos saudáveis de cavalgar no touro: “Gente, acordei hoje toda ferrada, com as mãos esfoladas, e o peito dolorido. Parece que eu saí de uma aula intensiva de malhação. Sinto os músculos do meu corpo, nem percebi que existiam. Eu arrasei! Juro que arrasei! Tô quebrada, sim, mas tive um momento raro de prazer e diversão!” Acho que deve ser o mesmo sentimento que faz aqueles bombados da academia andarem com os braços abertos.









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