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Mostrando postagens de setembro, 2025

País mascarado (3)

  (Terceira Parte) Que País é esse?             Da ficção de Antônio Callado, em seu conjunto, transparece um projeto que se poderia chamar de Alencariano, na medida em que seus romances tentam sondar os avessos da História brasileira, aproveitando para tanto, junto com os modelos narrativos europeus (influência sobretudo do romance francês e do inglês) e brasileiros (o próprio José de Alencar e Machado de Assis, entre outros), a passagem do país tropical. Mesmo nos últimos livros, onde se pode ler um grande ceticismo em relação aos destinos do Brasil, permanece o deslumbramento pela exuberância da nossa natureza. Vista em bloco, a obra ficcional de Antônio Callado é uma espécie de reiterada “canção de exílio”, ainda que às vezes pelo avesso, como em Sempreviva (sexto romance publicado em 1981) onde o herói, Vasco ou Quinho – o “involuntário da pátria” – é um exilado em terra própria. Da religião à política O livro mai...

País mascarado (2)

  (Segunda Parte) “Em uma hora de conversa com Francisco Julião na sede das Ligas Camponesas, em Recife, vi o atender a esses casos pessoais que nem consertam a sociedade e nem ajudam a vida dos políticos. Mas que se há de fazer quando entra uma cabocla tendo nos braços uma criancinha exausta de chorar e em cuja cabeça há um tumor enorme?” ( Tempo de Arraes , Antônio Callado ) Na primeira parte do ensaio, descrevi que Antônio Callado transpõe em seus primeiros livros a rica experiência ganha nas viagens de repórter pelo país e exterior. E, na medida que conseguia fazer um certo nome passou a escolher os seus assuntos. Trabalhava no jornal Correio da Manhã quando resolveu conhecer os povos indígenas e a impressão que aquilo lhe causou foi tão forte, tão profunda, que guardou esse material para depois elaborar um romance. O livro Quarup é fruto de um contato jornalístico que pode fazer por escolha própria. Além do que, se destacava pelo espírito sagaz de observar o momento his...

País mascarado

  (Primeira Parte) Escritor com sólidas raízes no jornalismo, Antônio Callado transpõe para seus livros a rica vivência adquirida nas andanças de repórter pelo país e exterior. O fato narrado pode ser verídico ou fictício, mas sempre o envolve uma aura de realidade. Nos livros-reportagens, como Vietnã do Norte e Tempo de Arraes , Callado não se coloca como simples relator dos acontecimentos, mas semeia aqui e ali atentas considerações que enriquecem o texto. Na ficção, monta em geral os personagens e ações sobre sobre um momento histórico, que pode cruzar fronteiras e recriar os movimentos de Guevara na Bolívia, em Bar Don Juan , ou situar-se aqui mesmo, na perseguição de Quinho aos policiais torturadores-matadores de sua mulher, em Sempre Viva . Essa habilidade tem seu grande instante em Quarup , em que Callado consegue amoldar magistralmente o romance à realidade e, ao mesmo tempo, utiliza uma linguagem cambiante na narrativa, incorporando às vezes o próprio linguajar dos p...