(Segunda Parte)
“Em
uma hora de conversa com Francisco Julião na sede das Ligas Camponesas, em
Recife, vi o atender a esses casos pessoais que nem consertam a sociedade e nem
ajudam a vida dos políticos. Mas que se há de fazer quando entra uma cabocla
tendo nos braços uma criancinha exausta de chorar e em cuja cabeça há um tumor
enorme?”
( Tempo de Arraes, Antônio Callado )
Na
primeira parte do ensaio, descrevi que Antônio Callado transpõe em seus
primeiros livros a rica experiência ganha nas viagens de repórter pelo país e exterior.
E, na medida que conseguia fazer um certo nome passou a escolher os seus
assuntos. Trabalhava no jornal Correio da Manhã quando resolveu conhecer os
povos indígenas e a impressão que aquilo lhe causou foi tão forte, tão
profunda, que guardou esse material para depois elaborar um romance. O livro Quarup é fruto de um contato
jornalístico que pode fazer por escolha própria. Além do que, se destacava pelo
espírito sagaz de observar o momento histórico que vivenciava.
Temas
universais
O
localismo ostensivo que amarra esse escritor ainda às origens do romance
brasileiro, de uma literatura e de um país em busca da própria identidade (e
até mesmo a um certo regionalismo, nos primeiros romances), tem sua
contrapartida universalizante, desde Assunção
de Salviano, seu primeiro romance de 1954, transcendendo fronteiras e
alcançando os grandes problemas da vida e da morte, da pureza e da corrupção,
da incredulidade e da fé. Aliás, do
mergulho no local e no histórico é que resulta a concretização desses temas
universais, pelo confronto das classes sociais em luta no Nordeste, chega-se à
temática mais geral da exploração do homem pelo homem e das centelhas da
revolta que periodicamente acendem fogueiras entre os dominados; pela história
individual do padre Nando (do romance Quarup),
tematiza-se a situação geral da Igreja, dos padres e do intelectual que se
debate entre dois mundos; pela sondagem da consciência de torturadores brasileiros,
chega-se a esboçar uma espécie de tratado da maldade, que nos faz vislumbrar os
abismos de todos nós.
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