Curiosamente, hoje, o veículo do dia
é a internet para divulgar poesia e literatura. Nos portais, blogs e redes
sociais encontram-se banners chamativos de livros e e-books bem projetados na
vitrine da grande loja virtual com preços atraentes aliados às promoções e
descontos tipo no fim e começo de mês, entre outras campanhas promocionais. Alguns
livros mostram um trabalho gráfico sabido e diferenciado do que se vê no design
industrializado das editoras comerciais. Poucos artigos de imprensa discutem o
acontecimento da produção alternativa e independente do mercado. O assunto começa
– ainda que com alguma resistência – a ser ventilado nos bares do eixo São
Paulo, no sul do País, como Curitiba, Porto Alegre e Florianópolis e, chega em
Brasília. Trata-se de um movimento literário paralelo na internet ou de mais
uma moda? E se for uma solução de divulgação, para romper o universo restrito e
fechado das editoras? O fato é que a poesia circula, o número de poetas aumenta
dia-a-dia e as segundas edições já não são raras.
Frente ao bloqueio sistemático das
editoras, um circuito paralelo de produção e distribuição independente vai se
formando e conquistando um público direcionado que não se confunde com o antigo
leitor de poesia. Planejadas ou realizadas em colaboração direta com o autor,
as edições apresentam uma face charmosa, afetiva e, portanto, particularmente
funcional. Por outro lado, a participação do autor nas diversas etapas da
produção e distribuição do livro determina, sem dúvida, um produto gráfico
integrado, de imagem pessoalizada, o que sugere e ativa uma situação
mais próxima do diálogo do que a oferecida comumente na relação de compra e
venda, tal como se realiza no âmbito editorial. A esse propósito, convém lembrar
a tão frequente presença do autor no ato da venda o que de certa forma recupera
para a literatura o sentido de relação humana. A presença de uma linguagem
informal, à primeira vista fácil, leve e engraçada e que fala da experiência vivida
contribui ainda para encurtar a distância que separa o poeta e o leitor. Este,
por sua vez, não se sente mais oprimido pela obrigação de ser um
entendido
para se aproximar da poesia.
A deshierarquização
do espaço nobre da poesia – tanto em seus aspectos materiais gráficos quanto no
plano do discurso – faz lembrar a entrada em cena, nos idos de 60, de um gênero
de música que, fazendo apelo tanto ao gosto culto quanto ao popular,
conquistou a juventude universitária e ganhou seu lugar no quadro cultural. Assim
também, há uma poesia que desce agora da torre do prestígio literário e aparece
com uma atuação que, restabelecendo o elo entre poesia e vida, restabelece o
nexo entre poesia e público.
Dentro da
precariedade de seu alcance, esta poesia chega tanto pela web, mais especificamente
nos blogs e redes sociais, opondo-se à política cultural que sempre dificultou
o acesso do público ao livro de literatura e ao sistema editorial que barra a
veiculação de manifestações não legitimadas pela crítica oficial.
Tenho fé em que não se trata de um modismo mas de uma iniciativa tomada a partir de muitas portas fechadas, quando então as "janelas" da internet corroboram com a necessidade do autor de levar ao público seu trabalho. Cuidar de cada parte da edição, arcar com toda despesa sem nenhuma garantia, distribuir nossos livros como caixeiros ambulantes, não diminui de forma alguma, como muitos querem fazer crer; nosso talento ou capacidade de escrever e ainda nos premia com o contato diretor com o leitor e o prazer de ouvir dele depois o quanto apreciou nossa obra.
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