Engana-se quem acha que o homem maduro
fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não. Antes, há um estágio
para a idade do lobo. E, se você está no clube dos quarentões, já notou como
ele é parecido com a adolescência? Coloque os óculos e veja como este nosso
estágio é maravilhoso: - Você está com 47. Lembra quando você era jovem, 47 era
um velhinho, não era?
- Avô, avô...
- Então. E as mulheres de 47?
- Bisavós, bisavós...
- Não exagera. Avós, também. Aliás,
mulher de 40 já estava coroa. Toda de saia no joelho e, se ficasse solteirona
era rotulada de “titia”. Iam à igreja. A mãe da gente tinha 40, né? Era uma santa, né? Imagina se fazia os que as
de 40 fazem hoje...
- Onde é que você quer chegar?
- É que a nossa geração mudou tudo.
Mudou até a velhice. A gente é de uma turma que rompeu com tudo. Esse negócio
de censura, circuito universitário, pílula, cultura alternativa, isso fez mudar
tudo.
- Prossiga.
- Você está é justificando a nossa
velhice.
- Que velhice, cara! Você hoje faz
tudo que um cara de 20 faz.
- Mais ou menos, mais ou menos.
- Em nível comportamental...
- Em nível, cara?
- Desculpa, mas comportamentalmente
falando, você ficou em qual tribo. O cara de hoje, com 40, não se comporta mais
como um cara de 40 dos anos 60. Nivelou, entendeu?
- Explica melhor.
- As meninas também. As nossas amigas
de 40, por exemplo.
- Melhor não citar nomes.
- É que hoje elas fazem coisas que a
gente não poderia imaginar que a mãe da gente fizesse com a idade delas. Estão
todas aí, inteiraças. Liberadas, está entendendo? Mandando ver. E nós, também.
- Estou falando de cabeça. Nivelou
tudo. E, pra sorte nossa, nivelou por baixo. Veja a roupa do seu filho. Igual à
sua. Antigamente, um cara de 23 se vestia completamente diferente de um cara de
43. Ou você alguma vez viu o seu pai de tênis? (nem de pênis).
- Se a gente então não está velho, vai
ficar velho quando?
- Pois é aí que eu quero chegar. Não
existe mais a velhice. Até o final de 80, a gente fez tanta zorra que, sem
querer, garantimos o nosso futuro sem velhice. Pode escrever aí. Não existe
mais velhice.
- Ficamos imortais?
- Quase. Em outros tempos, o sujeito
começava a morrer mais cedo. Ficava uns 10, 15 anos morrendo. Agora não, ele
vai ficar até os 80, 90. Daí ele fica doente e morre logo. Acabou a agonia. Pensa
bem: a gente está com 47. Temos mais uns 50 pela frente. Firmes. É isso, cara:
não existe mais a velhice. E fomos nós que detonamos com ela.
- Mas, têm o cabelo branco, as rugas,
a barriguinha...
- Mesmo porque os cabelos não ficam
mais tão brancos como dos nossos pais. E as rugas, também. Os velhos estão cada
vez com menos rugas. E pra barriguinha estão aí as academias. Têm as fórmulas.
- Olha, não existe velhice para a
nossa geração. A gente batalhou isso. Agora essa nova geração que vem aí vai
envelhecer. Se ela quiser continuar a ser como a gente, vai acabar sendo igual
aos nossos pais, como diria o grande Belchior.
(Crônica
do livro “Novas de Macho na Cozinha
e Outros Ingredientes”,
editora Clube de Autores, São Paulo, 2011.)
Mais informações, clique e acesse a
página do livro na home page da editora.
http://www.clubedeautores.com.br/books/search?utf8=%E2%9C%93&what=rubens+shirassu+j%C3%BAnior&sort=&commit=BUSCA
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