O Homem deixa de improvisar sua vida,
enquadrando-se na marcha uniforme
da sociedade organizada e vestida
Nietzsche certa vez escreveu em A
Cultura dos Gregos: “O Homem acostumou-se durante milênios com a conexão do
idioma com o ritmo da música. O poder mágico da dicção rítmica tem sido
paulatinamente esquecido. Distanciamo-nos cada vez mais de nossa origem”. Como
já disse, foi o poder econômico, político e religioso do conquistador – e não
qualquer “prova científica” – que determinou que a arte poética não servia. A
maioria das pessoas – por medo de serem chamadas de “sonhadoras” – perdeu sua
consciência intuitiva. Um estudo habitual e aprofundado, passando por Lao Tsé,
Os Upanishades, Zen-budismo, Matsuó Bashô e o simbolismo oriental – grandes
escritos e celebridades, religarão os seres humanos às divindades. A união
entre o Haicai, que requer uma atitude contemplativa (de disciplina, delicadeza
e quietude) e a simbologia oriental é um choque cultural terrível e, ao mesmo
tempo, com a Estrela Dançarina de que falava Nietzsche.
Amnésico e anestesiado pela
civilização urbano-industrial, robotizado em seus sentimentos, limitado em sua
visão pelos edifícios e muros das cidades, o homem moderno não sente mais a
alegria cósmica e natural, de participar de um nascer do sol, de um crepúsculo,
do silêncio das ilhas perfumadas, do instinto, da imensidão das mares – e das
estrelas. Reprimindo a criança que existe nele, o homem moderno aniquila as
entidades circunvizinhas (protetoras ou amigas), do júbilo em seu coração.
Deixa de improvisar sua vida, enquadrando-se na marcha uniforme da sociedade
organizada e vestida. Estas atitudes são indícios da necessidade profunda de
reencontrar uma aproximação com o mundo, com o homem, com a vida, fundada em
valores reais conforme a natureza verdadeira do homem e seu papel na criação. O
processo de criação dos Haicais, lado a lado, no caminho Zen, encontrará sua
lógica e expansão, religando o ser humano, crítico e consciente, com a
natureza.
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