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Semiótica














       Que tipo de escola é essa que forja empresários e líderes políticos autoritários? Essa escola é o Brasil. Aqui se aprende desde cedo a não ter ideias, a não usar a cidadania, a mandar e a obedecer simplesmente, a não respeitar o macacão do operário e a adular o terno e a gravata. Temos uma formação fundada na semiótica, formada no simbólico e submisso do Brasil que começa pelo próprio texto da bandeira do País. Um certo modelo social, econômico, político e cultural que tem marcado o Brasil, começando pelo fato do País ter sido a oitava economia capitalista do mundo e o quarto exportador mundial de produtos agrícolas. Uma economia que chegou perto do primeiro mundo, através de um caminho autoritário, moderno, internacionalizado, e que teve um custo, que hoje se paga: dívida externa de mais de 800 bilhões de reais, milhões de pessoas na miséria absoluta, salário mínimo em torno de 300 dólares, educação e saúde deterioradas, violência urbana, uma economia submersa garantindo de forma perversa a sobrevivência de milhões de pessoas.
            Hoje, Presidente Prudente abriga mais de 300 mil habitantes, números que obrigam a inclusão de um parque industrial, conforme demonstra lei específica. Todo comércio e pré-indústrias na região são resultado do sistema oligárquico, aqui, não tem leste europeu. E foi este modelo político que melhor se adaptou aos interesses pessoais? Alguém sabe quem foi que lançou o slogan “capital da Alta Sorocabana? Criou-se uma visão ufanista e aparente pela influência também da semiótica. Anos depois, em nome da transição,  destruiu-se tudo o que se pôde, abrindo o caminho para um dilema do tipo que os tempos soft Colloridos roxo nos colocou: sua vontade ou o caos, seu plano ou o caos. Esse é um novo tipo de sequestro político, que chantageia o presente pelo pânico do futuro que se apresenta como inevitável.
            Muito se descreveu com precisão a estratégia nefasta, na tentativa de destruir psicologicamente os opositores do capitalismo mesquinho, medíocre e autoritário do Estado de São Paulo: os trabalhadores, artistas em geral e professores deveriam sentir como se não mais existissem. Um macabro estratagema oficial que sufoca e anula a ideologia e os produtores culturais sérios até hoje, na tentativa de convencer a se comportarem como se já estivessem mortos. A dualidade entre céu e inferno, cruel e fascinante, oferecida pelo capitalismo selvagem. Um sistema onde há o fatídico encontro dos opostos. Apanho uma situação limite, mas que é apenas o indicador de uma condição mais ampla, geral e irrestrita, em que procuro colocar os fatos e aqueles que os produzem. Querem que nos convençamos de que o horizonte não existe. E que a noite é eterna.
            Algumas centenas de milhares de nordestinos, tantos deles semi-analfabetos, também disseram, àqueles que nos sombrios anos 70 pretendiam que eles se comportassem como zumbis amordaçados: “oi nóis aqui tra veiz”. A faixa dos peões do ABC paulista, primeira página dos jornais em 1979, violentava a gramática e a censura. Rejeitavam o desespero quietista, pavloviano e provinciano. Nós, que cultivamos os livros, desrespeitamos a gramática, subvertendo as palavras, rejeitamos a censura e as normas dogmáticas das cartilhas stalinistas, que adoram o Estado e a ciência. Um novo olhar reconstruindo esperanças e utopias.







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