Cartaz do filme "Mr. Arkadin" (1955) de Orson Welles
Imagine uma pessoa sem memória, como Mr. Arkadin do memorável filme de Orson
Welles (1955). Ele não conhecia a origem de sua fortuna, vítima que era de
amnésia. Por isso, contratou um investigador que ao deslindar o mistério,
através de testemunhas que sabiam que Arkadin havia enriquecido durante a
guerra à custa do jogo e da prostituição, propiciava ao magnata eliminar, um a
um, seus incômodos cúmplices. De vítima de amnésia pessoal passou a artífice de
uma amnésia social. O filme é uma metáfora sobre a acumulação primitiva do
capital e seu “registro histórico”. Agora, imagine-se este papel sendo
desempenhado pelo próprio Estado em benefício de uma elite que padece da síndrome de Arkadin. É o que ocorre na
cidade e interior de São Paulo.
Para salvar e preservar a memória,
como lançamentos de autores em coleções adequadas para a geração futura, seria
necessário tantos mil reais. Como não há este dinheiro, Mr. Arkadin e seus
acólitos vibram. E o Estado, que mal atende às demandas sociais elementares,
não pode mesmo gastar este dinheiro com sobrados e casas velhas, ou com autores
anônimos e regionalistas. O problema é que a sociedade, os vários grupos
sociais, não se reconhecem no passado. Por isso, destrói-se a arquitetura da
Vila Marcondes e do eixo central de Presidente Prudente, descaracterizando a
sua identidade. Infelizmente, ainda prevalece a especulação imobiliária, como
ocorreu no Rio de Janeiro. Por isso, os cupins, as traças e o próprio tempo se
encarregam de arkadinizar a história
e seus produtores culturais.
A tecnologia de ponta para produzir e
conservar informações de valor histórico é por demais conhecida. Incorporá-la à
preservação de nossa cultura é uma questão de investimento, abertura e
cidadania a ser assumido com responsabilidade por particulares. É o caminho
para transformar a “história morta”, em “história viva”, desarkadinizar a sociedade. Que os voluntários se apresentem.
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