Precursor do surrealismo, é uma das maiores
influências
da poesia moderna
Durável – apenas o céu
maior
desse mundo: Apreendo
esse doce
sonho das estrelas no
seu curso.
Na
Via com Rimbaud
Rubens Shirassu Júnior
A tradução de Arthur Rimbaud, no
Brasil, tem privilegiado duas do poeta francês, a saber, Rimbaud Livre, de Augusto de Campos, a mais lida pelo público
brasileiro: a de Alberto Marsicano (Rimbaud da série “Por Ele Mesmo”, da Martin Claret) que se esgotam sucessivamente. Uma
forte justificativa para esta preferência está no impacto que a poesia de
Rimbaud, de William Blake, Allen Ginsberg e os ensaios de Antonin Artaud e
Aldous Husley exerceram sobre a contracultura dos anos 50 e 60, ou melhor, nas
referências popularizadas pelos artistas daquele movimento. Apenas por questões
de citação, sua arte poética influenciou nomes marcantes como: Pablo Picasso, Dylan
Thomas, Vladimir Nabokov, Bob Dylan, Patti Smith, Giannina
Braschi, Léo Ferré, Henry Miller, Van Morrison e Jim
Morrison. Uma referência também dos surrealistas brasileiros: Murilo Mendes, Rosário
Fusco, Roberto Piva e Claudio Willer.
Eis, aqui, algo curioso que acontece
com Arthur Rimbaud: a importância da sua obra por si só parece não ser
suficiente, devendo ser legitimada pela fusão de poesia e vida. Vejo sua
ancestralidade nos seres pobres, bárbaros, ineptos e esfoladores, de certa
forma, no presente, sente-se solidário em tornar-se mau, cair cada vez mais no abismo
negro. Mas, em sua tentativa de consolação, pela perda da inocência, Rimbaud
encontra também respostas positivas, embora selvagens ao extremo. O poeta anseia
em ficar num estado de torpor ao tomar essa natureza, incorporar toda sua
seiva, com sede obsessiva, em seus poemas é uma luta sem fim. Só que na medida
do tempo, apercebe-se que os homens
estão com o cordão umbilical cortado para sempre da natureza, e a luz natural
desmoralizada. Mesmo à luz fulgurante do sol, Rimbaud é consciente que caminha
nas trevas mais opacas e cerradas: “O azul que é negro”, constata ele em sua
“Uma Temporada no Inferno”.
Existe um tempo de um Arthur Rimbaud,
apaixonado e amoroso, mas, aí, ligam-se mutuamente em poemas atrozes que buscam
apenas descobrir na mulher a ferida malcheirosa, como no poema “A Vênus” cita: “Belle hideusement, dun ulcere àl anus.”
Uma constatação desencantada presente em sua obra, como vi neste outro poema em
que as mulheres são definitivamente isoladas, por “formigarem do toque pútrido
de Jesus.” Ele sabia que a bondade, a piedade, a caridade estão fora de
cogitação neste mundo, um mundo mutilado, cortado e a sua missão na Terra, um
místico sem Deus, que no sentido literal, sem jogo de palavras, nem metáforas é
“mudar a vida”, inventar novas cores, refazer o amor, construir novas paisagens
ou novas flores, por meio da poesia e chegar à alucinação. Abolir o mundo das
aparências em que vivemos e sentir a luminosidade da qual fomos exilados e, por
essa tentativa, os astrônomos discorrem que esses “Abismos Negros” funcionam
como uma espécie de transformadores entre o universo e o que está à sua beira,
uma saída do ambiente cósmico, canais para um além, para outras dimensões do
ser. Um não espaço – um outro tempo ou um fora do tempo, são estrelas no espaço
distante cujo processo se inverteu, e que regrediram, ao invés de expandir,
tornando-se de uma energia, intensa, impensável, dentro das dimensões mínimas.
Esses “Buracos Negros” atuam como uma boca devoradora que aspira a matéria
estelar em torno de si. Esta transformação levou o poeta pelo esforço
desmesurado em metamorfosear a forma e a substância das coisas, cair nestes
abismos negros, sem tempo e espaço pela alta transcendência.
Vênus
Anadiômene
Tradução de Augusto de
Campos
Como
de um verde túmulo em latão o vulto
De
uma mulher, cabelos brunos empastados,
De
uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com
delícias bastante mal dissimulados;
Do
colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas,
o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob
a pele a gordura cai em folhas chatas,
E
o redondo dos rins como a querer voar...
O
dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente
horrível; notam-se, a rigor,
Particularidades
que demandam lupa...
Nos
rins dois nomes só gravados: Clara Venus;
-
E todo o corpo move e estende a ampla garupa
Bela
horrorosamente, uma úlcera no ânus.
A
Eternidade
Tradução de Augusto de
Campos
De
novo me invade.
Quem?
– A Eternidade.
É
o mar que se vai
Como
o sol que cai.
Alma
sentinela,
Ensina-me
o jogo
Da
noite que gela
E
do dia em fogo.
Das
lides humanas,
Das
palmas e vaias,
Já
te desenganas
E
no ar te espraias.
De
outra nenhuma,
Brasas
de cetim,
O
Dever se esfuma
Sem
dizer: enfim.
Lá
não há esperança
E
não há futuro.
Ciência
e paciência,
Suplício
seguro.
De
novo me invade.
Quem?
– A Eternidade.
É
o mar que se vai
Com
o sol que cai.
“Ele era, então, filho do sol, estava
na luz natureza, na unidade, no ser que existe para além dos tempos.”
“Guerra e vingança, terror, meu
espírito. Remexamos a ferida, passai, repúblicas deste mundo, imperadores,
regimentos, colonos, povos, passai... Desaparecei Europa, Ásia, América, nossa
marcha vingadora tudo ocupou.. Os vulcões explodirão, o oceano congelará...”
( Fragmentos )
Soneto
das Vogais de Arthur Rimbaud, traduzido e lido por Augusto de Campos no CD
“Poesia é Risco”, de Augusto de Campos e Cid Campos:
Patti Smith: Poem
about Arthur Rimbaud (subtitulado). Clip from the Steven Sebring's 2008
documentary "Patti Smith - Dream Of Life":
Total
Eclipse ( Eclipse de Uma Paixão ) Filme completo e legendado que conta a
história completa do encontro tumultuado dos poetas franceses Jean Arthur
Rimbaud (Leonardo DiCaprio) e Paul Verlaine ( David Thewlis )
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