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Nos Toques do Atabaque










Ao legado da cultura africana









A aura lilás rodeia a sua pele,
imprime a força ancestral no couro
o atabaque, a antena da raça,
parabólica dos orixás.
O toque do atabaque
tangencia o ar, o vento, o fogo e a água,
nos quatro pontos cardeais
que independem das pedras,
dos ferros das casas, dos prédios,
êxtase da clarividência, nirvana,
transe de Dionísio em comunhão
com o Cosmo.
O som do atabaque penetra
em qualquer coisa e lugar.



O atabaque
bate mais fundo do que oferenda
bate mais fundo do que fixar tenda.



Melodia no ritmo do coração
das raízes com aroma de cana,
de açúcar mascavo,
destila a cachaça das senzalas desidratadas,
que engasgam pelas brasas curtidas
os gritos das almas sofridas,
rapadura da vida escravocrata.
Seu choro negro é música,
manifestação democrática,
onde dançam homens, mulheres, crianças
e deuses, que inspiram a luta, o desejo
e a guerra entre nações.



Bate fundo atabaque
sensorial da filosofia empírica,
zabumba batucando
o coração da gente, disparando
mensageiro da vida paralela,
ILá de Oxalá, pomba branca que anuncia
a porta aberta de passagem da harmonia,
na música dos dedos do ogan percussionista,
a sabedoria da África na pista.










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