Ilustração de Allalen
Um produto de qualidade vendável amoldado ao século 21
Não se pode discutir
um sentido histórico da literatura de Presidente Prudente, porque não há este
sentido. Nossas atitudes são a-históricas. O quê se tem que discutir é a
urgência de se fundar um tempo histórico entre nós. Quando uma cidade que se
intitula “capital da alta sorocabana” não tem um Plano Municipal de Cultura
(PMC), qual o efeito real disso às gerações atual e futura, à economia, ao
turismo e à identidade, diante do peso maior de outras carências. Isto, se
olhar a cultura como um produto que muda constantemente e, exige sincronia com
as tendências de mercado e das novas tecnologias digitais do século 21.
Pela falta de
tradição cultural decorrente do fator marcante em privilegiar o que é lançado
em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, seria, o “top” de qualidade e
novidade, a formação da população, amparada por uma cultura agropecuária,
religiosa do medo e da culpa, além de influenciada também pelo mau costume da
dependência/centralização nas decisões dos órgãos culturais e gestores do
município e do Estado, formou-se um conceito centralizador de serem os principais
polos divulgadores da cultura. Muito semelhante ao regime ditatorial stalinista,
na União Soviética bolchevista da década de 1920, onde o Estado ditava as
regras privilegiando os apologistas seguidores do regime e seus artistas populistas
que possuíam uma linguagem mais coloquial, que acreditavam satisfazer a massa.
Portanto, os escritores
e artistas em geral não se isolaram do meio social, o que falta estabelecer é
uma espécie de ponte, um intermediador, no caso um agente cultural, que
proporcione o diálogo aberto visando o benefício do artista e da empresa
patrocinadora. Um profissional especializado em marketing cultural que tenha o
poder da persuasão, a sociabilidade, a segurança que os empresários e os artistas
confiem investindo em seu trabalho. E que tenha também livre acesso aos meios
de comunicação para semear a valorização do meio artístico de Presidente
Prudente, que possui grandes nomes seja na literatura, na dança, na pintura ou
na música, pois propagam a cultura diferenciada pela alta qualidade e divulgam
uma imagem positiva e saudável da localidade, entre outras paragens.
Acredito ser preciso
privatizar, planejar, estruturar e profissionalizar ao máximo, as atividades
culturais, limitando-se as ações do município e do Estado, enquanto produtor, e
privilegiando a sua ação nas áreas de infraestrutura, entendendo como
privatização a ação das pessoas jurídicas de direito privado, através da
criação de sistemas, mais precisamente projetos culturais e, sem esquecer de
franquias, posteriormente, para execução de programas culturais em nível
particular.
De outra parte, fomos
educados apenas com a preocupação de subsistência em produzir e esquecemos de nos
posicionar como empresários, conforme mostram os fatos no começo do incentivo
para a abertura de microempresas, entre os anos 80 e 90, recordam?
Em seguida, temos que
fornecer um bom produto para que vire assunto de pauta para o jornalismo
cultural que engatinha os primeiros passos, após o advento da faculdade de
comunicação e publicidade na cidade. Com a chegada da tecnologia digital e
gráfica trazendo novidades, os escritores foram colocados num grande impasse:
incorporar todo tipo de mídia para assumir como empresa que depende da venda de
seu produto, além da sustentação da imagem. E, fica a dúvida permanente: como
fazer o produto transformar-se em marca ou onde encontrar um agente cultural?
Assim, na condição de
um dos redatores do Plano Municipal de Cultura (PMC), dentro do mesmo urge a
organização de um banco de dados que tenha a supervisão de uma banca formada
por profundos conhecedores da história da arte em geral, da análise crítica e
da classificação dos artistas: por exemplo, desde iniciantes, podemos
classificar como os que não obtiveram ainda prêmios de nível estadual ou
federal, os amadores, que seriam os pintores copistas, aqueles que produzem
paisagem morta através de ampliação de quadros de pintores desconhecidos.
Incluir também os intermediários, que criam suas pinturas, porém, ainda estão
no estágio de conhecimento de técnicas e, finalmente, os artistas
profissionais, que obtiveram prêmios de níveis estadual e federal, com um certo
volume de publicação de livros, ebooks, de exposições, de lançamentos ou de intervenções,
etc.
Produtores culturais
e assistentes, com certa frequência, vêm ressaltando, como principal fator, da
fragilidade, as faltas de informação, a descapitalização da maioria dos
artistas, de estratégia e marketing cultural, ao lado de profissionais
específicos que façam a intermediação da venda do projeto junto ao empresariado
local, regional e nacional, amparados pelas leis de incentivo, que beneficiam
as empresas no Imposto de Renda (IR).
Infelizmente, poucos
têm o privilégio de desfrutar desta ação, apenas os grandes astros e estrelas
do teatro, da televisão e cinema do Brasil, são contemplados pelas leis de
incentivo fiscal, como a conhecida e polêmica Lei Rouanet. Problemas, que
exigem o aprimoramento do argumento pelo profissional experiente e junto à
mudança de atitude da classe artística, destaca o estigma de que arte com
qualidade, por ser elitista, torna-se restrita, não obtém boa aceitação pelo
público em geral. Ledo engano. O nicho
de mercado exige um projeto específico atrativo, inteligente e que satisfaça os
interesses desta classe minoritária e exigente, citando a figura do diretor de
marketing das médias e grandes empresas locais e nacionais. Vivemos uma época
que qualquer produto no mercado é dirigido, existe público-alvo, certo?
São aspectos básicos,
parecem-me requerer um estudo maior do campo, uma pesquisa e elaboração de
banco de dados classificando, através de júri designado pelas câmaras
setoriais, de uma parceria com profissionais na área de Estatística, do campus
local. Dependendo de verba disponível até contratar uma empresa séria de consultoria.
De qualquer forma, através de projeto bem elaborado, da estratégia, da divulgação
e, o mesmo amoldado às condições do mercado, poderemos um dia ver sistematizada
e estruturada a cultura literária, um esforço no sentido de manter a face de
identidade da cidade.
A questão é bastante
séria e a perda de identidade, junto ao perfil vazio e fragmentário, envolvem
tanta complexidade que a melhor saída seria assumir uma visão sensata e
administrativa de ação pobre, perdida, sem conteúdo, sem impacto de nosso
produto (livro ou peça artística). Uma ação que atende apenas ao cronograma de
atividades amoldadas a uma forma desgastada, para encobrir a grande fenda
arremessada, aliada a algumas ações esparsas que morrem por falta de
continuidade, acompanhamento e plano de marketing.
Não há outra prioridade,
nem segunda alternativa. Ou assim agimos, com postura ideológica, fé,
seriedade, profissionalismo, comprometimento ou deveremos colocar uma placa de
bronze em nossa caixa imaginária, alertando aos incautos dentro da “zona
fantasma”: “Aqui, jaz, por não mudar o enfoque sobre a cultura e não ter iniciativa,
meros mercadores ególatras, narcisistas, recalcados e de nuvens”.
Comentários
Postar um comentário