Desde o surgimento da poeta paulista Orides Fontela na cena
literária, com Transposição (1966) - primeira obra publicada -, Helianto
(1973), Alba (1983) - Prêmio Jabuti -, Rosácea (1986), Teia
(1996) - premiado pela APCA - , Trevo (1969-1986) e Poesia
Reunida (1969-1988) - também premiado pela APCA -, a alta qualidade de sua
poesia foi reconhecida e apreciada, em razão de um estilo impar, largamente
criativo e um rigor construtivo, que a aproxima de João Cabral de Melo Neto.
Assim a avaliam críticos como, entre outros, Antonio Candido, Davi Arrigucci Jr.,
Augusto Massi e Marilena Chauí.
A poeta construiu uma obra densa e representativa, seus livros são
compostos de poemas curtos, porém carregados de significados, pois "Orides
trabalha na base de uma parcimoniosa opulência ou, de maneira mais simples, que
produz muito significado com poucas palavras" Antonio Candido (1983: 4).
Na opinião do crítico, na "orelha" de Trevo (1988,
1ª orelha), o verso da escritora "é rico e quase inesgotável: denso, breve, fulgurante, convidando o
leitor a voltar diversas vezes, a procurar novas dimensões e várias
possibilidades de sentido", por este motivo adentrar no universo
poético de Orides significa atentar para a simplicidade de seus versos e
desconfiar de que haja neles algo além do que simples palavras. É preciso
enveredar pela multiplicidade de significados em tão curtos versos, pois "Orides entronca na tradição do poema curto e
virtualmente fragmentário, mas trabalhando com o senso de concorrência de
recursos, para chegar a multiplicidade do significado" (CANDIDO,1983:
6).
Assim a lírica de Fontela foi conquistando espaço entre os grandes
escritores e seguindo a trilha da grande poesia, "dialogando com poetas
como Drummond e Cabral, entre outros, que amadureceram a escrita poética
modernista ao reconstruir a poesia como arte da palavra. Portanto, podemos
dizer que sua poesia não é nova. Seria a maneira de usá-la organizá-la, dando
aos seus elementos uma surpreendente originalidade. Orides entronca na tradição
do poema curto e virtualmente fragmentário, mas trabalhando com senso da
concorrência de recursos para chegar a multiplicação do significado.
Percebemos nas palavras de Orides essa originalidade apontada no
poema "Prece":
Senhora
das feras
e esferas
Senhora
do sangue
e do
abismo
senhora
do grito
e da
angústia
senhora
noturna
e eterna
-
escuta-nos!
Suas palavras adquirem sempre multiplicidade de sentidos; além
disso, convida o leitor a ler novamente e voltar várias vezes, buscando novos
sentidos. Parafraseando essa idéia, afirmo que: a minimalista poesia de Orides
Fontela funde num mesmo amálgama sígnico diversas heranças de nossa literatura,
impregnando os textos de elevada e sofisticada poesia lastreada em alicerces de
sóbria reflexão formatada no que podemos nominar de lirismo metafísico de alta voltagem
estética.
Seus versos autênticos e de alta qualidade estética são escritos com grande simplicidade e carregados de essencialidades que estão presentes, bem diante do olhar do leitor atento, pois Orides Fontela, "consegue em alguns de seus poemas um tal despojamento estilístico que a impressão que se tem é que a poesia está se consubstanciando pela primeira vez, numa simplicidade de primeira descoberta.
Orides parece aluna que aprendeu com grande proveito a lição de
João Cabral de Melo Neto, esses traços são observados no poema "Errância" (FONTELA, 1986: 2002):
Só porque
erro
encontro
o que não
se
procura
só porque
erro
invento
o
labirinto
a busca
a coisa
a causa
da
procura
só porque
erro
acerto:
me
construo.
Margem de
erro:
margem
de
liberdade.
"Errância", exemplifica
o projeto de abolição do componente confessional do eu que fala, aproximando o
tema exposto de uma característica mais ampla do ser humano, seja ele mulher ou
homem, nacional ou estrangeiro, criança ou adulto. Orides manifesta uma poesia
impessoal, incorporando ao sistema poético imagens plenas de sugestões e
belezas, como mostra no poema "Esfinge" (FONTELA, 1986: 247):
Não há
perguntas. Selvagem
o
silêncio cresce, difícil.
Essa neutralização da subjetividade é outro aspecto da sua ars
poetica que filia a escritora ao projeto de João Cabral de Melo Neto, pois,
mesmo quando se evidencia a manifestação em primeira pessoa, desaparece tudo o
que dá conta da subjetividade, tornando-se o sujeito da enunciação entidade genérica,
não indivíduo dono da história particular e isolada.
Ao lermos os poemas de Fontela, verificamos que eles revelam
traços da poesia contemporânea, assim como traços de estilo da sua lírica. A
começar pela economia verbal, consequência da ausência, no âmbito morfológico,
de adjetivos e, no semântico, de metáforas ou figuras vinculadas a expressões
imagéticas. Orides amadureceu sua voz, sua ars poetica reconstruindo a
poesia como arte de tecer e tramar a teia poética. Os versos do poema "Teia" (FONTELA, 1996: 275) elucidam
o processo criativo da autora:
A teia,
não
Mágica
Mas arma,
armadilha
a teia,
não
morta
mas
sensitiva, vivente
a teia,
não
arte
mas
trabalho, tensa
a teia,
não
virgem
mas
intensamente
prenhe:
no
centro
a aranha
espera.
Neste refinado poema, percebemos que para a aranha entremear e tecer
os fios para produzir sua arte, precisa paciência. Tramar os fios parece ligado
ao fato de que escrever bem seria algo restrito a alguns indivíduos iluminados que
tem a necessidade de tecer versos, transformando realidade e fantasia em imagens.
Assim temos a metáfora da palavra aranha: o escritor, que tece e entretece o
tecido poético. Eis aqui também a metáfora de teia: moradia e engenho,
metaforicamente estão ligados a poeta que para produzir sua arte é necessário
paciência e aguardo - moradia. Além disso, é preciso talento e destreza -
engenho.
Sobre esse poema aponto que, talvez esse poema viva a sombra da Psicologia da composição de João Cabral de
Melo Neto, que associa o trabalho de criação poética ao desenovelar do fio pela
"atenção lenta", tal como a aranha. Orides, contudo, opta pelo
recurso à tradição clássica, que expressa a proximidade entre as noções de
"tecer" e "texto", palavra que, em latim, se escreve tecido.
"Teia", por sua vez, é tela.
Na língua dos romanos, que estabeleceram a associação primordial entre a
composição artística - a tela, a teia, o tecido, logo, o texto - e aranha".
Podemos atribuir a esse poema o sentido de criar e entremear os
fios do tecido poético, associado ao trabalho de criação de uma arte literária.
Além disso, percebemos a presença de uma voz lírica emanando complexo erotismo:
a mulher. Assim revelo que: o vínculo entre a mulher e a arte da tecelagem
remonta a Penélope, que aguarda o marido e engana os pretendentes que assolam
seu palácio real, enquanto entrelaça os fios de lã na tela preparando a
mortalha do sogro Laertes. Enquanto trabalha com as mãos, Penélope urde e
trama, verbos associados ao ato de tecer; por isso, tal como no poema citado,
sua teia é "arma", "armadilha", "trabalho"; mostra-se
"sensitiva, vivente", "intensamente prenhe", como é próprio
a uma tecelã que é amante e mulher.
Os versos de "Teia",
remetem a um mito primordial da criação, mas associam-no ao trabalho feminino,
que perpassam às possibilidades de produção e estendem-se para além da situação
pessoal, não renegam a condição material e de gênero em que se concretiza.
Assim acontece com a poeta que entremeia as palavras para tecer o tecido
poético.
Esse jogo intertextual também está presente no poema "Bodas de caná" (Fontela, 1983: 156)
que dialoga com o episódio bíblico "As bodas de cana: a água feita em
vinho". Neste poema, Orides nos mostra como o poeta arquiteta sua poética
com tão poucas palavras, mas com sentidos intensamente prenhe, inesgotáveis
como podem ser percebidos nos versos de "Bodas de Caná":
I
Da pura
água
criar o
vinho
do puro
tempo extrair
o verbo.
II
Milagre
(anti-milagre)
era
tornar em água
o vinho
vivo.
III
A água
embriaga
mas para
além do humano: no amor
simples.
IV
Para os
anjos a água
para nós
o vinho
encarnado
sempre.
Esse metapoema metaforiza o milagre da criação de uma arte
literária, produzida por um ser com intensa criatividade, capaz de transformar
realidades, sonhos, fantasias em linguagem escrita, como alguém iluminado apto
para "extrair o verbo", no dizer de Orides Fontela. Aparentemente, um
poema composto por quatro estrofes, divididas com algarismos romanos, com
versos sem métricas nem rimas. A partir do título, a autora mobiliza um coro de
vozes intertextuais com a parábola "As
bodas de Caná: a água feita em vinho", texto bíblico, que seguramente
serviu de inspiração para a poeta.
Diante desse pressuposto, no poema o texto aparece tal como
Bakhtin o entende: tecido polifonicamente
por fios dialógicos de vozes que polemizam entre si e se completam". No
dialogismo proposto por Bakhtin, o discurso, entretecido por outros discursos, perpassa
e é perpassado pelos mais diferentes sujeitos e suas culturas. Assim acontece
com "Bodas de Caná", a
poeta retoma o primeiro milagre de Jesus Cristo que parece ter uma relação
muito forte com milagre da criação da arte poética, pois a palavra extraída do puro
tempo torna-se matéria prima para o poeta atingir o milagre de compor uma
obra de arte: recolher as imagens e transformá-las em símbolos vivos, ou, como
diz Orides Fontela, extrair o verbo e metamorfosear em vinho vivo.
Essa metáfora velada em vinho vivo e vinho encarnado nos faz
pensar sobre o fazer poético que se constitui uma natureza dupla e
perturbadora, em razão das possibilidades de sentidos que podemos atribuir a
essa metáfora. Sobre o tropo metafórico, teorizo:
"Enquanto enigma velado
a metáfora não é apenas uma figura de composição estranha, cujo interesse se
esgotaria nessa própria estranheza. Muito menos dela damos conta quando
acrescentamos que seu componente de estranheza precisa se compor com a
exigência de clareza".
Essa figura de composição, que nos causa certa estranheza, pode
conotar sentidos que nos encaminha para a conclusão de que o vinho metaforiza
o milagre da criação da arte literária e que vinho encarnado está
relacionado à tradição.
Conforme Eliot (1989: 38), a tradição "não pode ser herdada, e se alguém a deseja, deve conquistá-la através
de um grande esforço". Assim como a poeta Orides Fontela não construiu um
projeto estético individualmente, mas lendo outros poetas e escritores, indo
"beber na fonte" o vinho encarnado dos escritores do
passado.
Para Eliot (1989: 39), "nenhum
poeta, nenhum artista, tem sua significação completa sozinho. Seu significado e
a apreciação que dele fazemos constituem a apreciação de sua relação com os
poetas e os artistas mortos". Eis, então, o significado de vinho
encarnado: Tradição Literária.
Nesse contexto, "Bodas
de Caná" é um metapoema que metaforiza o milagre da criação de uma
arte literária imbricado com o sentido de tradição. Orides Fontela vale-se do
poema para expor ao leitor, por meio de metáforas, como se compõe um poema,
para quem recorre à história bíblica. Assim como os grandes poetas percorreram
a tradição literária para criar um projeto estético, a metáfora do vinho encarnado
sempre é a imagem da poética simultaneamente sintética - nas palavras - e
exuberante - de polissemias - de Orides Fontela.
Com a análise desses poemas mostramos um pouco da poesia de Orides
Fontela, quando lemos seus poemas: "[...]
a primeira impressão que nos assalta é a de um misto de júbilo e de espanto, porque
não é sempre (ou melhor, é muito raro) que uma autora nos concede a dádiva do
milagre da poesia; espanto, porque - mais raro ainda - quase não se chega a
entender como pôde dizer tudo que nos diz a partir de estruturas e recursos
formais tão sucintos e singelos".
Essa linguagem de essencialidade na lírica orideana nos faz
refletir sobre esse discurso cuja limpidez dói até no próprio espírito, nessa
dicção exata e cristalina na qual o que e o como da expressão
poética convivem num diálogo de harmonia e organicidade absolutas.
Orides progride de livro para livro com uma firmeza que chamaria
de triunfal, se não fosse tecida de dúvidas, tacteios, discussão implícita no
subsolo dos poemas muitos dos quais não são apenas construção de poesia, mas
também questionamento do fazer poético" (CANDIDO, 1983: 3).
Augusto Massi ao escrever a resenha sobre Alba (recém
publicado) chama a atenção dos poetas, leitores e críticos que ainda não
conheciam a "fina poesia": "tão discreta, pessoal e rara"
de Orides (MASSI, 1983: 100).
Destaco o amadurecimento estético da poeta a partir de Helianto,
ressaltando que o universo poético anterior torna-se denso e obsessivo. Hora de
afiar e desafiar a forma [...]. Orides aprimorou sua voz poética após o livro
de estréia, uma vez que todos os temas que a atormentavam no livro de estréia
são retomados de maneira sintética e concentrada. A poeta apresenta uma lírica
dura, cortante, despojada, em que se refletem os grandes tópicos, há também
muito da Orides e de seus desesperos, mas de um desespero transfigurado e
seguro nas imagens que explodem.
Entender esse projeto estético rico em símbolos, imagens que se
configuram em metáforas é também compreender como se constrói essa poesia que
muitos críticos chamam de "lírica do silêncio". Parece que reflete a
própria vida de Fontela e seus desesperos transfigurados em certas imagens
inesperadas do sangue que afloram, tem uma certa paixão do vivido que brota
inesperadamente no meio daquela abstração toda e das imagens. O poema "Coruja", de que eu já falei, está
sintetizado na forma de uma poética, inclusive pela vertente da ferocidade, da
agressividade sem peia que também é propriedade dela.
A obra de Orides se associa a sua maneira de ver o mundo, as
coisas e as pessoas. Revela também que a poeta "não sabia controlar os risos
e as lágrimas" e "não tinha muito a medida do outro. Havia em Orides
uma certa agressividade que não sabia controlar. Parece que o poema "Coruja" metaforiza esse
comportamento dela. Ilustraremos esses comentários por meio do poema "Coruja", (FONTELA, 1986: 203):
Vôo onde
ninguém mais - vivo em luz
mínima
ouço o
mínimo arfar - farejo o
sangue
e capturo
a presa
em pleno
escuro.
Observando esse poema, ficamos perguntando: como pode Augusto
Massi (1983: 100) chamar o discurso de Orides de "fina poesia",
"tão discreta, pessoal e rara"? Esse discurso denso, duro e cortante.
Eis que a resposta aparece quando lemos seus poemas, a grande poeta que
conseguiu transformar infortuno em obra literária, versando com uma linguagem
simples, mas essencial, transfigurada em signos lingüísticos que se desdobram
em imagens: metáforas.
Explico um pouco sobre essa lírica orideana densa e breve que,
como já dissemos, "trabalha na base de uma parcimoniosa opulência", produzindo
muitos significados utilizando um vocabulário simples e sucinto, pois o seu
repertório é limitado e parte dele corresponde ao de certa poesia que experimenta
com a pureza. Por outro lado não é nova, pois encontramos nela toda a panóplia
dos espelhos, da água, do branco, do cisne, estrela. Como justifica o crítico Antonio
Candido (1983), no prefácio de Alba, os signos em Orides, "Nos níveis mais recônditos, brilham
como um lago desconhecido o espelho-brancosilêncio, que poderia ser o nada,
limite que atormenta e fascina. O ser e o nada.
[...] os seus poemas partem da fixação com o
nada, na tentativa de afirmar o ser, -
que é o eu do poeta, mas sobretudo o poema
realizado, atrás do qual ele se eclipsa "(CANDIDO,
1983: 3).
Podemos ilustrar essas observações de Antonio Candido, com os
versos de "Poema" (FONTELA,
1983: 149):
Saber de
cor o silêncio
diamante
e/ou espelho
o
silêncio além
do
branco.
Saber seu
peso
seu signo
- habitar
sua estrela
impiedosa.
Saber seu
centro: vazio
esplendor
além
da vida
e vida
além
da
memória.
Saber de
cor o silêncio
- e
profaná-lo, dissolvê-lo
em
palavras.
As palavras-chave de "Poema":
diamante, espelho, estrela, memória que contrapõem a branco,
vazio são imagens transformadas em símbolos que recaem em uma única
palavra: silêncio. O ser e o nada a que referiu Candido. Esta imagem do
silêncio, recorrente na poesia de Orides Fontela, foi objeto de várias
pesquisas acadêmicas: a) A construção do silêncio: um estudo da obra poética
de Orides Fontela (2001) de Alexandre Rodrigues da Costa, b) A lírica
dos símbolos em Alba de Orides Fontela (2002) de Letícia Ferreira, c) O Ser
e o Silêncio: a trajetória poética do Ser na obra de Orides Fontela (2002)
de Afonso Henrique Novaes Mendes, c) Orides Fontela: Poeta, Senhora da
Palavra, Rainha do Silêncio (2002) de Angela Cançado Lara Resende, entre
outras.
Conforme estudos realizados, a marca do silêncio torna-se uma
parte da poesia orideana, que identifica-se, sob vários aspectos, à teoria e à
prática de Stéphane Mallarmé. Em Alba, é indisfarçável o acercamento
voluntário ao incognoscível e inominado [...] Nos poemas orideanos, como nas
reflexões de Mallarmé, o silêncio
constitui um dos conceitos mais frequentes".
Na lírica orideana: a palavra quase não é dita ou, num paradoxo
quase presente, diz-se pouco para revelar muito. Esta revelação sempre é uma
busca, seja do íntimo oculto no mistério das coisas, seja do silêncio em sua
opulência vibrante nas entrelinhas das palavras, seja na verdade do Ser de cada
ente vibrado em verbo. Tudo isso em favor de seu projeto de criar um universo
um tanto opaco, muitas vezes frio, vazio de objetos, que o denunciem em sua
riqueza sígnica, mas prenhe de amplidão de imagens. Apontamos como metáfora
presente na obra de Orides Fontela: o silêncio. Esta metáfora vem marcada pelos
curtos versos que ecoam silenciosamente nos olhos do leitor atento e sensível.
Esses versos invadem o universo deste leitor, levando-o a presenciar sensações
contraditórias: numa primeira leitura somos seduzidos por um discurso lírico
altamente elaborado, que nos impele para um gesto inaugural [...]. Mas aos
poucos um sentimento de repulsa toma nosso corpo.
Contextualizo minhas palavras citando os versos do poema "Meio-dia" (FONTELA, 1969: 34):
Ao
meio-dia a vida
É
impossível.
A luz
destrói os segredos:
A luz é
crua contra os olhos
Ácida
para o espírito.
A luz é
demais para os homens.
(Porém
como o saberias
Quando
vieste à luz
De ti
mesmo?)
Meio-dia!
Meio-dia!
A vida é
lúcida e impossível.
Essa é poesia de Orides, uma linguagem de essencialidade que
arrasta o leitor para "núcleo do silêncio", expressão usada por mim.
Revelo também que o mundo interior da poetisa é uma mescla de sigilo e abismo. A
lucidez de sua poesia é cruel, por isso temos como metáfora o silêncio que habita
os sucintos versos da lírica orideana.
Finalizamos reproduzindo as palavras de Nelly Novaes Coelho (2002:
533): "Orides Fontela, uma das vozes
que quase anonimamente - em dor, em ânsia de beleza, verdade e essencialidade -
deixou em poesia seu testemunho de vida, nestes tempos de caos" e
dizer ainda que a lírica de Orides Fontela clama por ser descoberta com suas
inúmeras possibilidades de leitura. Poesia que é vida, sentida como um
renascer contínuo/que nela se inaugura/vida nunca acabada/tentando o absoluto, diz
a poeta, entremeando os fios da sua ars poetica.
Referências:
ALMEIDA,
J. F. (trad.) Bíblia Sagrada. Santo André: Geográfica, 2006.
CANDIDO,
Antonio. [Sem Titulo] Alba. In: FONTELA, Orides. São Paulo: Roswitha
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A. B. Entretecer e tramar uma teia poética: a poesia de Orides Fontela. S83.
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Antonio. [Sem Titulo] Trevo. In: FONTELA, Orides. São Paulo: Claro
Enigma,
1988.
COELHO,
Nelly Novaes. Dicionário crítico de escritoras brasileiras. São Paulo:
Escritura
Editora, 2002.
ELIOT,
T.S. Tradição e talento individual. In: ________. Ensaios. Trad. Ivan Junqueira.
São Paulo: Art Editora, 1989.
FERREIRA,
Letícia Ferreira. A lírica dos símbolos em "Alba", de Orides
Fontela.
Santa
Maria: ASL: Pallotti, 2002, p. 72 e 109.
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Alba. In:_____ Poesia Reunida [1969-1996]. São Paulo: Cosac
Naify:
Rio de
Janeiro: 7 letras, 2006, p. 147- 193.
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Rosácea. In:_____ Poesia Reunida [1969-1996]. São Paulo: Cosac
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Rio de Janeiro: 7 letras, 2006, p. 195-267.
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Teia.. In:_____ Poesia Reunida [1969-1996]. São Paulo: Cosac
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FONTELA,
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Naify: Rio de Janeiro: 7 letras, 2006, p. 11- 70.
JUNQUEIRA,
Ivan. A essência da linguagem. In O fio de Dédalo. Record Editora,
1998, p.
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MASSI, A.
Orides Fontela: Alba. Colóquio Letras, nº 76, p. 100-101, Nov 1983.
Disponível
em http:
//coloquio.gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/issueContentDisplay?n=76&p=100&o=r
Acesso em
16 Jun. 2008.
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