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Novos Modos de Educar no Século 21













A ESCOLA E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Organização e Apresentação: Viviane Mosé
Educação, Aspectos Sociais e Práticas de Ensino
ISBN: 9788520012086
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Formato: 14 x 21
336 Páginas
1ª Edição
Civilização Brasileira
Rio de Janeiro
2013





“O educador é aquele que aprende, que é capaz de aprender,
e ele só ensina o que aprendeu vivenciando”

João Guimarães Rosa











            Falar sobre desenvolver um melhor ensino é uma luta deveras árdua. Sem dúvida, as dificuldades abarcam a carga horária reduzida, algumas escolas apenas com dois horários semanais; turmas com mais de trinta e cinco estudantes; faltam recursos didáticos inovadores; violência, drogas, professores com formação inadequada, excesso de trabalho, uma vez que o educador precisa trabalhar em dois turnos, devido ao baixo salário, entre outros.
            Ser docente no Brasil implica enfrentar desafios, principalmente ao ensinar a Geografia, porque abrange múltiplos temas e perpassa por conteúdos que envolvem: mazelas sociais; obscuridades políticas; aspectos econômicos; ambientais; culturais, físicos. Entender os contrastes e fenômenos que ocorreram ao longo da história, do ponto de vista geográfico, mostra-se uma tarefa abrangente, para o estudante, pois, muitas vezes, parece distante de sua realidade, sendo necessária uma contextualização dos conteúdos em escala do local ao global.
            Acrescenta-se, também, o planejamento das aulas, as práticas didático-pedagógicas reflexivas são elos importantes na caminhada pela construção da aprendizagem significativa, que abarca as experiências de seu educando tornando-as interessantes e não dadas como verdades absolutas. Fonseca (2010, p.01) aborda: “[...] planejar contribui para o aprimoramento do exercício da docência, especialmente na Geografia que permeia por temas físicos e humanos”.
            A arte de educar, no século XXI, exige um docente eclético, extremamente qualificado e compromissado, pois aborda temas que envolvem o espaço geográfico. Além do domínio de conteúdo, esse profissional deve possuir, entre outros atributos, criatividade, didática e ética. Ter o hábito de leitura e, ser reflexivo, dinâmico, flexível e adaptável, pois as mudanças são constantes, tanto nos aspectos físicos como humanos. Esse cabedal de cultura em geral, o deixará mais seguro para contextualizar conteúdos, dentro do tempo histórico, em escalas do local para o global.
            Um trabalho que exige do educador senso agudo de observação do pensamento de cada criança dentro da sala de aula. Tal postura mostra que o mesmo deve conhecer profundamente de psicologia, exigindo maior habilidade de expressão corporal usada nas artes cênicas e na dança, criatividade, persuasão verbal e competências: falar naturalmente como se estivesse sintonizado e amoldado ao universo particular de seus alunos.
            Ele deve avaliar constantemente o seu trabalho de ação pedagógica, onde o objetivo principal seria o desenvolvimento e a construção da linguagem, usando os meios gestual, sonoro, pictórico, de imagens juntando-se à fala e à escrita, criando jogos e atividades que levem as crianças ao prazer de brincar aprendendo, refletindo os choques cognitivos no que se refere à linguagem. De tal modo que, gradativamente, essas habilidades desenvolvidas nas crianças favoreçam o raciocínio mais rápido, formando um adulto com argumentação mais consistente, envolvente, de atitudes firmes, concretas e decisivas, típicas de um profissional dinâmico, ambicioso, versátil, maleável e, também, sintonizado na constante atualização profissional.
            Em determinadas regiões do País, existe a dificuldade do educador em ter acesso a matérias complementares para as aulas. Por outro lado, mostra-se o quadro da criança que vem de famílias sem letramento por falta de hábito de leitura, de incentivo dos pais aliados aos problemas sociais e econômicos. Razão pela qual, o alfabetizador e mediador deve promover uma aprendizagem significativa, envolvendo-se com os alunos, a família e a comunidade do bairro na construção do saber, formando cidadãos mais conscientes de seus direitos e deveres, além de mais participativos nas reuniões e problemas da escola.
            Vivemos uma nova realidade no mundo, mudanças vertiginosas com informações mais acessíveis, portanto, a educação básica necessita de docentes habilitados e atualizados constantemente e com forte espírito corporativo. Sobretudo, a formação do profissional de ensino constrói-se através do trabalho em equipe, da socialização dos saberes, pautados numa visão holística do mundo e de sua interconexão com o homem e a natureza.
            Temos o caso do ensino de Geografia no Brasil, uma discussão que parte de uma árvore e seus vários ramos de reflexões intrinsecamente ligadas aos processos em escalas tempo/espaço, uma problemática que se instaurou desde a constituição das camadas sociais. Visto que, o acesso de fato à cidadania é privilégio de poucos, assim percebemos que a modernidade e o atraso são “gumes” da educação. Buarque (2011, p.17) comenta:


O capital-conhecimento é produto dos centros criadores de ciência e tecnologia, que não se desenvolverão sem a cooperação entre empresas e universidades. Por sua vez, esses centros só contarão com o potencial intelectual da sociedade se receberem alunos bem preparados pela Educação de Base. O total potencial de inteligência da sociedade não será atingido se a Educação de Base com qualidade deixar uma única criança de fora.
            Na entrevista de Tião Rocha, antropólogo, educador popular e folclorista, o educador mineiro questiona o papel da universidade, como um espaço muito isolado da comunidade, nas muralhas de um gueto, ela se autossatisfaz, se autoabastece e se autojustifica. Consequentemente, na maioria das vezes, não há uma devolução, um intercâmbio, uma interlocução com o mundo externo. dCria-se um fosso entre a comunidade e a universidade, que será transposto se a universidade quiser abaixar a ponte ocorrerá o contato, comprometendo-se com a nossa realidade. A universidade forma apenas pessoas. “Os pedagogos preparam os professores, ou seja, vira uma reprodução em série desse descompromisso, dessa coisa pronta, acabada, que não tem contato com a realidade. Assim, deixa de ser importante, de ser eficaz.” – destaca Rocha, nas páginas 260 e 261.
            Seu trabalho nasceu do pensamento de uma educação sem escola, uma educação que não seja uma escola. Que não esteja presa a esse conceito, entabulado, formatado, seja de um prédio, de um currículo ou de uma grade. Um trabalho vigoroso que estimule pesquisadores, educadores e estudantes, que incentive não somente a inventar novos modos de educar, mas acreditar no Brasil.
            Uma coisa importante que considero fundamental contribuição de Paulo Freire, é ter pensado que, numa escola todos são educadores, da merendeira até o porteiro. Neste raciocínio, pressupõe que educar envolve muito mais o gesto, a paixão, a capacidade e o talento natural para o fim educativo do que exatamente do conteúdo que essa pessoa tem. Porque são as recordações que marcam a nossa vida, oferecendo às crianças um parâmetro, um referencial que tem mais sentido nele do que na professora. Todos são peças da construção dos mundos público e da cidadania.






Referências Bibliográficas:




BUARQUE, Cristovam. A Revolução Republicana na Educação Ensino de Qualidade para Todos. São Paulo: Editora Moderna Ltda, 2011. p.143.

FONSECA, Gildette Soares. Planejamento nas Aulas de Geografia, Essencial Para o Ensino Aprendizagem. 2010. Disponível em: http://www.agb.org.br/xvieng/anais/index.html








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