Gilberto Gil questiona: Será que a privacidade acabou?
Um amplo palco para discussões
de maneira salutar e
honesta
A iniciativa de Zelmo Denari, editor
e idealizador, de seu conselho editorial e da equipe de produção do Pio-Pardo,
é merecedora de aplausos, pois o veículo impresso sobrevive com dificuldades,
mas consciente de seu papel e importância para a reflexão, o debate político,
econômico, social e literário, tanto local como regional e nacional.
O jornal nasceu para ser um veículo
impresso de informação e crítica de Presidente Prudente, sem grandes pretensões
nacionais. Até hoje, os poucos jornais que sobrevivem na cidade não se dedicavam
exclusivamente aos comentários e debates de problemas locais, nacionais e
internacionais. Criou-se, assim, um diferencial no meio da imprensa, portanto,
o jornal nasceu desta carência e da vontade de um grupo de escritores,
advogados, jornalistas e profissionais liberais de fazer algo que consideravam
interessante no jornalismo.
Desde o início - e isso se explica,
talvez, pelo ímpeto idealista que os ronda; todos tem mais de 25 anos e alguns
já haviam deixado a universidade em torno de 44 anos atrás -, o Pio-Pardo
sustenta uma proposta de crítica livre, sem vínculos com grupos políticos e
partidários, grandes corporações, panelinhas, etc. Além disso, o veículo é,
desde o início, um jornal independente. Neste curto período, conquistou um
espaço entre os veículos culturais da cidade e região oeste do Estado de São
Paulo. Com uma tiragem de 5 mil exemplares o jornal, de periodicidade mensal, chega,
primeiramente, em todos os condomínios residenciais, numa das mais antigas e tradicionais
revistarias, no Centro Cultural Matarazzo, num espaço de eventos no centro de
Presidente Prudente, algumas cortesias e por meio de assinatura.
Essa turma quer produzir um material
parecido com o que oferecia a imprensa alternativa dos anos 60 e 70, a exemplo
do Pasquim, Movimento, Opinião, Lampião, Demo, Tribuna Operária, revista
Realidade, entre outras publicações.
Parte para uma “missão” um tanto iconoclasta.
Hoje, mesmo analisando e mantendo a
linha editorial do jornal, o Pio-Pardo ainda é visto e
reconhecido (o que é muito bom) como um veículo combativo, desapegado de
tendências. Tem um DNA atento, forte, persistente, determinado e batalhador.
Para ser mais claro, turrão mesmo! Enfim, é um amplo palco para discussões de
maneira salutar e honesta. Também se percebe uma preocupação dos editores em
conceder espaço aos autores que estavam fora da grande mídia. Isso é uma marca
do jornal que segue forte. A publicação precisa ser palco de grandes polêmicas
entre leitores, articulistas e escritores. Para que renda boas discussões
acaloradas e marcantes. Para que o veículo impresso ganhe mais evidência em
Presidente Prudente e região oeste do Estado.
O que mudou de lá pra cá? Muita
coisa neste curto espaço de tempo, principalmente em qualidade editorial. O
cenário das literaturas local e brasileira também sofreram transformações
nestes 33 anos Há, com certeza, um ambiente mais favorável à literatura em
Presidente Prudente e Alta Sorocabana. Alguns fenômenos interessantes são
evidentes: 1) Os novos autores ganharam oportunidade nas grandes casas
editoriais. Hoje, é muito comum uma grande editora apostar em livros de estreia.
2) Há uma quantidade imensa de festivais, bienais, encontros, feiras, etc.,
podemos citar o Salão do Livro, aqui, na cidade, desenvolvendo um trabalho em
torno da formação de público leitor, seguidor e consumidor das literaturas
local e do País. Portanto, facilitou-se muito o surgimento de novas vozes. No
entanto, não afirmo que há um ambiente ideal, mas é muito melhor do que era nos
anos 80, por exemplo. Uma prova disso é que o Pio-Pardo consegue
sobreviver, mesmo Presidente Prudente não sendo ainda uma cidade muito encantada
pela literatura e pelo jornalismo crítico e investigativo.
Para complementar a sustentação de
imagem, falta apenas o site do Pio-Pardo com os artigos, crônicas,
ensaios e colunas referentes à edição do mês. No entanto, com alguns itens
abertos para os internautas e, o acesso geral terá apenas os assinantes do
jornal. A internet, obviamente, tem uma participação de extrema importância.
Muitos veículos impressos da grande imprensa, encontram dificuldades para se
manter em atividade hoje. O Pio-Pardo é voltado para leitores de
formação mediana e elevada, conscientes
de seus deveres de cidadãos, sendo críticos, pois exigem os seus direitos
descontados em seus impostos que pagam os altos salários de vereadores,
secretários, prefeito, governador, deputados, senadores, juízes, promotores e, acima
de tudo, sua excelência a Presidente Dilma Rousseff. Além disso, apreciam a boa
literatura em um País de poucos leitores. Na edição de número 17, de fevereiro
de 2014, na página 7, item Diário de um Gringo, no artigo “Um Chute no Traseiro”, Adam Smith escreve “Curioso como os brasileiros
sempre esperam que o governo os ajude, quanto menos intervirem, melhor a
sociedade funciona.” O autor do artigo corta fundo e com a precisão de um dissecador da alma humana!
Em sequência,
no artigo “Sexo e Dinheiro” José
Roberto Fernandes Castilho traça o perfil do escritor francês Émile Zola, da escola naturalista, visivelmente
idealista e engajado com uma reflexão crítica sobre a sociedade do mundo em
transformação neste começo de século. São raros os autores e livros que ainda
despertam polêmica após mais um tempo após a sua primeira edição, como é o caso
de Germinal e a loucura alucinatória
e violenta, de sangue, suor e vidas ceifadas, em busca de poder através do
capital pelos exploradores. Olhe no item Literatura na página 3. Já nas páginas 8 e
9, uma entrevista exclusiva com o cantor, compositor e poeta Gilberto Gil, onde
expõe o seu pensamento sobre as questões das biografias e os direitos de
privacidade e liberdade de expressão: “É
preciso que haja garantias, é preciso que os dois direitos de liberdade de
expressão convivam expressos no mesmo estatuto legal”. Esse era o meu argumento
e continua sendo. Em relação a esse aplicativo novo, por exemplo, o tal de
“Lulu”, os juristas já estão começando a discutir, prevenir as meninas. Isso de
fazer o perfil dos homens do jeito que elas querem pode causar problemas
sérios. A lei pode vir em socorro a muitos desses homens, que irão se sentir
ofendidos pelas mulheres. Estamos numa época da humanidade em que é preciso ter
muito cuidado com todas essas questões. Muitos cronistas estão dizendo que a
privacidade acabou. Será que é isso mesmo? A privacidade é um direito de todos
os cidadãos.”
Entre os projetos que a equipe do
jornal desenvolve atualmente para sobreviver tem os Encontros do Pio, são
bate-papos descontraídos sobre um tema escolhido dentro do espaço de uma casa
de eventos. A ideia gira em torno de unir assuntos variados ao aspecto
sensorial do paladar, numa composição que reúne temperos, cores, aromas, sucos,
refrigerantes, bebidas, petiscos, enfim, a gastronomia com o saber, o sabor e o
prazer, parafraseando Roland Barthes. Isso contribuirá para a realização de
outros projetos que ajudam a garantir a sobrevivência. Além disso, com o tempo,
conquistarão um número maior de assinantes e a confiança de bons anunciantes.
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