Densidade e imagens surrealistas
Antônio Abujamra, grande diretor,
ator de teatro e apresentador de TV há 13 anos, no programa “Provocações”,
edição número 583, de terça-feira, 11 de setembro de 2013, da TV Cultura Canal
2, após a entrevista com a atriz Annita Ferrari, encerra o programa lendo o
poema “O Reino do Interno”, de Rubens Shirassu Júnior, escritor, cronista, poeta
e editor de livros de Presidente Prudente.
Este poema seco, de imagens fortes
de dor e agonia, como a sensação de um soco no estômago, integra a coletânea
“Cobra de Vidro”, seu primeiro livro de poemas, um projeto aprovado pelo ProAc 2011 (Programa de Ação Cultural) uma promoção do Governo do Estado de São Paulo e
Secretaria da Cultura. O livro foi distribuído também no programa “São Paulo:
Um Estado de Leitores”, que envia livros às novas bibliotecas do Estado.
COBRA DE VIDRO
Rubens Shirassu Júnior
Poesia Brasileira
82 Páginas
ISBN 978-85-913167-0-0
Gráfica Vida & Consciência
São Paulo
2012
O Reino do Interno
Aos anjos apavorados de
um colégio
Eu
vi tuas crianças
destruídas
como lagartas por
uma
centena de noviças abutres,
seviciadas
pela ausente luminosidade
da
natureza criadora.
Havia
um azul imparcial
vigiado
pelas sanguessugas baratinadas
pelo
telhado roído.
Um
jardim de ondazul sempre
grande,
pousava beija-flores
nos
seus olhos vazados,
é
devorado com paciência
pela
paisagem de morfina.
Enquanto
o mundo dos insatisfeitos
semeava
o antigo clamor
da
crucifixação encarnada.
Eu
vi o horror no reino do interno,
onde
adolescentes católicos
percorrem
os corredores
tingindo
seus olhos com lágrimas
vulneráveis
negras sodomizadas
nos
banheiros.
E
as pobres cabeças cartesianas
digerem
o aquário, onde os mortos
vagam
na noite normal, cumprindo percurso,
procurando
um anjo de fogo
iluminado.
Onde
a cabeça é uma batata
submersa
no vidro de picles,
conservado
por góticas beatas,
reino-vertigem
glorificado
espectro
vibrando espasmos.
Há
um sino que toca,
chamando
as ovelhas desgarradas,
a
catedral na desordem se decompõe
nos
pavimentos, onde o sopro de vida bate
pelos
ventiladores, os pássaros,
as
nuvens costuram o espaço avermelhado
de
um céu com dentes.
As
crianças com a mente
racham-se
de encontro às hélices,
a
plenitude da alma despedaçada
roda
rodando como teus olhos
diminuem
na paisagem,
derramando
o grito.
Horizonte
branco de asas devoradas
na
bacia embebida de sangue,
janelas
trancadas do caos.
Enquanto
velhas histéricas
distribuem
bombons
aos
anjos desolados.
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