Um bem-te-vi
testemunha ocular,
entendo o seu desespero,
o seu clamar,
ouço por inteiro.
Assustado com o
desmatar,
sai pela cidade a voar.
É preciso
não confundir ecologia com jardinagem. A ecologia é uma ramificação da
biologia, que estuda as interações entre os seres vivos e o seu meio ambiente.
Nos anos 70, quando se falava de ecologia, a resposta das pessoas, que se
amontoavam em bandos à direita e à esquerda, era sempre uma profissão de fé na
própria mediocridade: “Com tanta gente passando fome, esse cara vem falar em
natureza”. Como se a vida do cretino não dependesse exatamente do equilíbrio
ecológico. Os trabalhadores tem a CUT, a CGT. A onça pintada, os rios e o mar,
não têm sindicato. Elabore, você, junto aos colegas de bairro, do serviço, do
clube, abaixo-assinados reivindicando ao secretário do meio ambiente, aos
vereadores e deputados estadual e federal, enfim, às autoridades públicas, a preservação
de matas, florestas e a fauna. Tais ações, de maneira contínua, diminuirão o instinto
predatório reinante e o estratagema ardiloso de grupos empresariais,
industriais, de corporações que financiam a candidatura de porta-vozes ou
representantes aos cargos públicos, com objetivos de marketing político e
eleitoreiro. Somos meros espectadores passivos de um espetáculo bárbaro, podre
e sem graça, pois carregamos o gen das heranças do regime escravocrata e da
educação jesuíta. Nunca fomos tão incapazes de conviver em grupo, de seguir
leis e, ao mesmo tempo, cobrar os nossos direitos, pois fomos educados nas
escolas separatistas, concorrentes, individualistas e temos preconceitos com os
diferentes. Nosso modelo incutido de educação não tem como alvo a contradição,
como acontece com a ideia oriental da complementação dos opostos, no yin-yang.
De outro lado, planejar barreiras na
fiscalização de portos, estradas e na fronteira do País, dificultando assim a exploração
das reservas naturais da Amazônia, entre outras fontes de riqueza, contrabando
de armas, ambos de forma inescrupulosa, além da especulação imobiliária que
favorece uma elite que sustenta um modelo piramidal e agrário de poder, que
criou a visão dualista: o medo do inferno dantesco, apocalíptico, do diabo
(satanás), penúria, sofrimento, em contrapartida, o bem, na imagem dos afrescos
com figuras angelicais e celestiais, sem expressão humana, simbolizando que o
ser humano teria uma boa vida após a morte física. Essa mesma aristocracia
promove o trabalho e o ensino fragmentado, consequentemente, as desigualdades
social, econômica e, se vê ameaçado de perder o capital pelo crime organizado e
o fortalecimento e a organização do Estado paralelo.
Roberto Piva em “Utopias, Centauros:
O Brasil Agora” diz: “que a década de 80 em diante foi um retorno da sucata da
Sociedade Industrial (que em 300 anos destruiu integralmente o planeta),
atualmente em franca e acelerada desintegração. As matérias-primas escasseiam,
a Amazônia está sendo transformada num imenso lago (como queira o Instituto
Tecnológico de Massachusetts). Agora, os que quiserem salvar as cidades devem
urgentemente procurar energias alternativas (como a energia solar, por exemplo)
e abandonar a política energética dependente de reservas não renováveis e
tecnológicas imaturas. Asfaltaram o Brasil de norte a sul, para não pegarem
bicho-de-pé, e a falta de contato com a terra fez com que pegassem câncer.”
Já Alain Daniélou, no seu brilhante
livro “Shiva et Dionysos”, no último capítulo intitulado Le Retourn de Dionysos
mostra muito bem que um instinto de sobrevivência neste nosso mundo ameaçado se
manifesta em diversas formas: a ecologia, certa formas de ioga, medicina
alternativa ou a reencarnação na visão hindu e a filosofia do Zen. Estas
atitudes são indícios da necessidade profunda de reencontrar uma aproximação
com o mundo, com o Homem, com a natureza verdadeira do homem e seu papel na
criação. Estas formas de experiência só encontrarão sua lógica e expansão
buscando o equilíbrio no despertar do ser humano, crítico e consciente com a
natureza.
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