Espírito do mundo subterrâneo (à esquerda).
Conforme a representação de um artista esquimó.
Ao lado, uma representação de Nierika,
passagem entre a realidade ordinária e a não-ordinária.
Pintura dos índios Huichol, do México
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Sopro esse bambu,
persigo uma nota
e alcanço, apenas,
um tom doado pelo vento.
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Flutuo fluido num éter
imaginado
pode ser azul, verde sem
saber certo.
Ah, diluir-me sobre o
ventre da Mãe-Terra
- ser a alta onda sonora
que espera
pela primeira estrela no
prelúdio da noite,
refletindo no espelho.
Quero apenas o silêncio
perene
ao meu desligamento, o
vento derramando
a liberdade tranquila,
além de mim –
e entre mim e os sinais
de Netuno,
transcendo, sem medo,
maresia em meus cabelos
esvoaçantes,
tenho todos os sonhos e
idades.
Rubens
Shirassu Júnior
O “preço” que o xamã paga por seus
dons é também uma conduta impecável, incompatível com a vaidade, a covardia, a
mentira, o roubo, a busca de vantagens pessoais. É como se o espírito devesse
libertar-se das pesadas cadeias que o prendem ao mundo egóico, para adquirir
leveza e alçar voo. Daí, a iniciação xamânica envolver provas que exigem do
aprendiz fé, coragem e desprendimento supremos. Esse contato íntimo com a
morte, aliás, é um traço comum nas biografias dos xamãs. Muitos deles só iriam
despertar seus extraordinários poderes de cura depois de sofrerem – e vencerem
– gravíssimas doenças e outros tipos de ameaça à vida. Ao contrário da ciência
racionalista – em que o cientista se mantém o mais “distanciado” possível dos
fenômenos observados, para não comprometer a pretensa “objetividade” do experimento
- no xamanismo o que vale é a experiência pessoal.
Por isso, é difícil para o
antropólogo entender o mundo xamânico. Os poucos que conseguiram acabaram
tornando-se, eles mesmos, xamãs. É o caso de Carlos Castañeda, autor de oito best sellers sobre seu aprendizado com o
misterioso Don Juan Matus. Outro que seguiu caminho semelhante foi Michael
Harner, que trabalhou na seção de antropologia da Academia de Ciências de Nova
York, EUA, como explica em seu livro The
Way of The Shaman, a chave para
abrir a porta da estranha realidade dos xamãs é passar do “estado ordinário de
consciência (EOC)” ao que ele denominou “estado xamânico de consciência (EXC)”.
“A diferença entre esses estados pode ser talvez ilustrada a partir de exemplos
de animais”, afirma. “Dragões, grifos e outros animais que seriam considerados
míticos no EOC são reais no EXC. Não há nenhum motivo – exceto o preconceito –
para se considerar a descrição da realidade fornecida pelo estado ordinário de
consciência como a única verdadeira.
A psicóloga Doucy Douek, quando na
presidência da Associação Transpessoal da América do Sul, com sede em São
Paulo, é uma das pessoas que teve iniciação xamânica com Michael Harner, nos
Estados Unidos. “Certas pessoas, não identificáveis no estado ordinário de
consciência” - ela comenta - “são identificadas e curadas em estados alterados”.
Para isso - informa Harner -, o xamã,
através de seus méritos pessoais, acumula “espíritos protetores”, dos reinos
mineral, vegetal e animal, que irão auxiliá-lo no processo de cura.
Leia:
O
Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase, de Mircea Eliade, São Paulo:
Martins Fontes, 2002;
Antropologia
Estrutural, de Claude Lévy-Strauss, Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro,
1970;
Os
Escritos de Antonin Artaud. Tradução, prefácio e seleção Cláudio Willer. Porto
Alegre: L&PM, 1983;
Viagem
ao País dos Tarahumaras, de Antonin Artaud, Coleção Rebeldes & Malditos, Porto Alegre, L±
Antonin
Artaud: O Artesão do corpo sem órgãos, de Daniel Lins, Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 1999;
Xamanismo
Ancestral - O legado da Índia antiga, de Akaiê Sramana, Editora Aldeia de Shiva;
Xamanismo
Quântico - O legado do xamã, de Akaiê Sramana, Editora Aldeia de Shiva;
A
Sabedoria do Xamã, de Hank Wesselman, Editora Rocco;
O
Segredo do Xamã, de Douglas Gillete, Editora Rocco;
Santo
Daime Revelado, de Gideón dos Lakotas, Editora Corpo Mente;
Magia
Indiana - Atharva-Veda Fórmulas e Práticas, de Maurice Bloomfield, Editora Madras;
O
Reino dos Devas e dos Espíritos da Natureza, de Geoffrey Hodson, Editora
Pensamento;
O
Caminho Quádruplo, de Angeles Arrien, Editora Ágora;
Universo
Holográfico, de Marcos Torrigo, Editora Madras;
Os
Quatro Ventos, de Alberto Villoldo e Erik Jendresen, Editora Ágora;
Meditações
dos Animais de Poder, de Nicki Scully, Editora Pensamento;
Inca
Myths, de Oscar Espinar La Torre, Editora Anka;
Animal Speak,
de Ted Andrews, Editora Llewellyn;
Sacred Smoke,
de Harvest McCampbell, Editora Native Voices;
Prevenções
e Curas com Pedras, de Karl Startk e Werner E. Meier, Editora Robafim.
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